UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciências da Saúde
Utilização da benzidamina para desenvolver
modelo ex vivo de permeação
Patrick José Mendes Brás
Relatório de estágio para obtenção do Grau de Mestre em
Ciências Farmacêuticas (Ciclo de estudos integrado)
Orientador: Prof. Doutora Luiza Augusta Tereza Gil Breitenfeld Granadeiro Co-orientador: Mestre Rita Manuela Palmeira de Oliveira
Covilhã, Junho de 2012
ii
iii
Agradecimentos
À Professora Doutora Luiza Granadeiro, minha orientadora, pelo apoio e total disponibilidade
que permitiu a concretização do trabalho.
À Dra. Rita Palmeira de Oliveira, minha co-orientadora, pela oportunidade que me
disponibilizou ao realizar este trabalho, simpatia e apoio prestado ao longo do projeto.
Ao Professor Doutor Bruno Sarmento e Dra. Fernanda Andrade pela colaboração e
esclarecimentos prestados nas questões técnicas do aparelho.
Ao Professor Doutor Pedro Oliveira e Doutor Marco Alves pela disponibilidade e cooperação
que me permitiram obter muitos dos resultados presentes nesta dissertação.
À Oviger pelo fornecimento das amostras animais, fundamentais para a elaboração deste
trabalho.
À Dra. Maria João Silva e Dra. Catarina Ferreira pela cooperação no tratamento das amostras
animais.
À Dra. Alexandra Esteves pela oportunidade que me proporcionou em estagiar na farmácia do
Calendário, simpatia e conhecimentos transmitidos ao longo do estágio.
À Dra. Catarina Carvalho, farmacêutica adjunta da farmácia do Calendário, pela ajuda nos
momentos mais complicados que surgiram durante o estágio.
Aos técnicos e auxiliares de farmácia pela simpatia que me receberam e conhecimentos
transmitidos.
Aos meus amigos, em especial aos colegas de casa, que me acompanharam ao longo destes
cinco anos e que sempre me ajudaram a ultrapassar os momentos mais difíceis.
Aos meus pais pela estimulação e preocupação ao longo da minha formação académica, e por
me terem ajudado a vencer todos os obstáculos com que me deparei.
iv
v
Resumo
O presente relatório encontra-se dividido em dois capítulos. O primeiro capítulo corresponde
à investigação realizada no Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS) da
Universidade da Beira Interior e o segundo ao estágio realizado em farmácia comunitária.
O primeiro capítulo deste relatório descreve a investigação desenvolvida, com o objetivo de
escolher um modelo para estudar a permeação através do epitélio vaginal. Desta forma
pretende-se que este possa ser aplicado no desenvolvimento de novos fármacos e de novas
formulações administradas por esta via.
A mucosa vaginal devido à elevada área de superfície e vascularização pode aumentar a
biodisponibilidade de algumas substâncias em comparação com outras vias. Esta via pode ser
utilizada tanto para a aplicação de fármacos com vista a ação tópica como para ação
sistémica. Existem, no entanto, algumas desvantagens associadas a esta via, como por
exemplo, a especificidade do género, a influência na relação sexual e na higiene pessoal e as
mudanças ao longo da idade do epitélio vaginal podem afetar a taxa e a extensão da absorção
de fármacos. As alterações dos parâmetros farmacocinéticos ao nível da absorção,
metabolismo e eliminação de fármacos, determinam a necessidade de aprofundar o estudo da
permeação de fármacos de administração tópica no epitélio vaginal.
O modelo desenvolvido consiste no estudo da permeação do epitélio vaginal de suíno por uma
substância, através do método de Ussing Chambers. A benzidamina, um fármaco anti-
inflamatório com ação antisséptica, foi a substância estudada. A espetrofotometria foi o
método de quantificação escolhido.
Concluímos que o método de recolha e preparação da amostra era adequado, contudo o
método de quantificação da benzidamina deve ser alterado, uma vez que está sujeito a
inúmeras interferências. Uma vez que o tampão utilizado foi o HBSS, o pH 5 parece ser o ideal
para o estudo da permeação da benzidamina.
No segundo capítulo são descritos os conhecimentos adquiridos e as atividades realizadas ao
longo do estágio realizado na farmácia do Calendário. Este estágio teve como principal
propósito um primeiro contato com a prática farmacêutica, permitindo aplicar e consolidar os
conhecimentos adquiridos ao longo do curso e conhecer a organização e funcionamento da
farmácia comunitária.
vi
Palavras-chave
Epitélio vaginal, administração tópica, benzidamina, Ussing Chamber, farmácia comunitária.
vii
viii
Abstract
This work is divided in two chapters. The first chapter relates to research developed at
Health Sciences Research Centre (CICS) of the University of Beira Interior and the second to
training held in the community pharmacy.
The first chapter of the work describes the research developed with the aim of choosing a
model to study drug permeation through vaginal epithelium. This model is intended to be
applied to the development of new drugs and delivery systems administered by this route.
The vaginal mucosa is able to increase the bioavailability of certain substances in comparison
with other routes, due to its high surface area and vasculature. The vaginal route can be used
for either topical or systemic delivery of drugs. There are, however, some disadvantages
associated with this route, such as, the specificity of the genus, the influence on sex and
personal hygiene and changes over the age of the vaginal epithelium that can affect the rate
and the extension of drug absorption. Changes at the pharmacokinetic parameters of
absorption, metabolism and elimination of drugs, determine the need for further study of the
permeation of drugs topically applied in vaginal epithelium.
The model consists of studying permeation of porcine vaginal epithelium by a substance using
the method of Ussing Chambers. Benzydamine, an anti-inflammatory drug with antiseptic
action, was the studied drug. Spectrophotometry was the quantification method chosen.
We conclude that the method of collection and sample preparation was appropriate.
However, the quantification method of benzydamine should be changed, since it is subject to
numerous interference. For the selected, HBSS, pH 5 seems to be optimal for studying the
permeation of benzydamine.
The second chapter describes the knowledge and the activities carried out during the training
held at Calendário pharmacy. This training had the main purpose of promoting the first
contact with the pharmaceutical practice, allowing to apply and consolidate the knowledge
acquired throughout college and learn the organization and operation of community
pharmacy.
ix
Keywords
Vaginal epithelium, topical administration, benzydamine, Ussing Chamber, community
pharmacy
x
xi
Índice
Capítulo 1 - Estágio em investigação: Utilização da benzidamina para
desenvolver modelo ex vivo de permeação 1
1 Introdução 1
1.1 Escolha de um modelo de permeação do epitélio vaginal 2
1.1.1 Características do epitélio vaginal humano 2
1.1.2 Modelos para o estudo da mucosa vaginal 4
1.1.3 Mecanismos de transporte através do epitélio vaginal 6
1.2 Benzidamina 7
1.2.1 Características farmacológicas 7
1.2.2 Farmacocinética 8
1.2.3 Efeitos na inflamação 10
1.2.4 Efeito no metabolismo do ácido araquidónico 11
1.2.5 Efeitos enzimáticos 11
1.3 Métodos de estudo de permeação 11
1.3.1 Ussing Chamber 12
1.3.1.1 Tipos de câmaras 12
1.3.1.2 Tipos de medições transepiteliais 12
1.3.1.3 Limitações da técnica 13
2 Material e métodos 14
2.1 Preparação de HBSS 14
2.2 Preparação da solução de benzidamina 14
2.3 Epitélio vaginal e intestinal de suínos 14
2.3.1 Preparação das amostras 14
2.4 Membranas artificiais 14
2.5 Metodologia para ensaios em Ussing Chamber 14
2.6 Método de doseamento da benzidamina 16
2.6.1 Espetroscopia Ultravioleta-Visível 16
2.6.2 RMN 16
3 Resultados e Discussão 17
3.1 Estudo A 17
3.1.1 Estudo da permeação de benzidamina através de epitélio
vaginal de suíno 17
3.1.2 Estudo da permeação de benzidamina através de epitélio
vaginal de suíno destruído 18
3.1.2.1 Comparação entre a permeação da benzidamina
através do epitélio vaginal de suíno integro e destruído 19
xii
3.1.3 Estudo da permeação de benzidamina através de
membranas artificiais 20
3.1.3.1 Membrana de celulose com poro 5-13µm 20
3.1.3.2 Membrana de celulose com poro 35-40µm 22
3.1.4 Estudo do comportamento dos interferentes libertados pelo
tecido 23
3.2 Estudo B 23
3.2.1 Variabilidade interindividual das amostras 23
3.2.2 Influência do pH do meio na permeação de benzidamina
através de membranas biológicas 26
3.3 Estudo C 27
3.3.1 Controlo da viabilidade celular 27
3.3.1.1 Resistência transepitelial do epitélio vaginal de
suíno 27
3.3.1.2 Resistência transepitelial do epitélio intestinal de
suíno 28
3.3.1.3 Medição da resistência transepitelial através de
um multímetro 29
3.3.1.4 Medição da resistência em modo short-circuit 30
3.4 Estudo D 31
3.4.1 Método de quantificação: espetrofotometria versus RMN 31
4 Conclusão 35
Capítulo 2 – Estágio em farmácia comunitária 37
1 Introdução 37
2 Organização da farmácia 37
2.1 Recursos humanos 37
2.1.1 Quadro técnico 37
2.1.2 Funções e responsabilidades 37
2.2 Caraterização geral do espaço 38
2.2.1 Caraterização do espaço exterior 38
2.2.2 Caraterização do espaço interior 39
2.2.2.1 Zona de atendimento ao público 39
2.2.2.2 Gabinete de atendimento personalizado 39
2.2.2.3 Gabinete de estética 39
2.2.2.4 Área de armazenamento 39
2.2.2.5 Zona de receção de encomendas 40
2.2.2.6 Gabinete da diretora técnica 40
2.2.2.7 Armazém secundário 40
2.2.2.8 Laboratório 41
xiii
2.2.2.9 Instalações sanitárias 41
2.3 Sistema informático 41
2.4 Princípios básicos da legislação farmacêutica em vigor 41
3 Informação e documentação científica 42
3.1 Biblioteca básica e publicações obrigatórias 42
3.2 Centros de documentação e informação 42
4 Medicamentos e outros produtos de saúde 43
4.1 Medicamento em geral 43
4.2 Medicamentos genéricos 43
4.3 Psicotrópicos e estupefacientes 44
4.4 Preparações oficinais e magistrais 44
4.5 Medicamentos e produtos farmacêuticos homeopáticos 44
4.6 Produtos fitoterapêuticos 44
4.7 Produtos de alimentação especial e dietéticos 44
4.8 Produtos cosméticos e dermofarmacêuticos 45
4.9 Dispositivos médicos 45
4.10 Medicamentos e produtos de uso veterinário 46
5 Aprovisionamento e armazenamento 46
5.1 Seleção de fornecedores 46
5.2 Armazenamento 47
5.3 Utilização informática na gestão de medicamentos e produtos
farmacêuticos 48
5.3.1 Elaboração de uma encomenda 48
5.3.2 Receção de encomendas 48
5.3.3 Devoluções 49
5.4 Controlo de prazos de validade 49
5.5 Margens legais de comercialização 50
6 Interação farmacêutico-utente-medicamento 50
7 Dispensa de medicamentos 51
7.1 Medicamentos sujeitos a receita médica 51
7.1.1 Subsistemas de saúde e comparticipações 54
7.2 Dispensa de psicotrópicos e estupefacientes 55
7.3 Função do sistema informática na dispensa de medicamentos 55
7.3.1 Venda suspensa 56
7.3.2 Venda a crédito 56
8 Automedicação 56
8.1 Situações passíveis de automedicação 57
8.2 Dispensa de medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) 57
9 Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde 57
9.1 Produtos de dermofarmácia, cosmética e higiene 58
xiv
9.2 Produtos dietéticos para alimentação especial 58
9.3 Produtos dietéticos infantis 59
9.4 Fitoterapia e suplementos nutricionais (nutracêuticos) 59
9.5 Medicamentos de uso veterinário 60
9.6 Dispositivos médicos 60
10 Outros cuidados de saúde prestados na farmácia 60
10.1 Determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos 61
10.1.1 Determinação do colesterol total e dos triglicéridos 61
10.1.2 Determinação dos níveis de glicemia 61
10.1.3 Determinação da hemoglobina 62
10.1.4 Determinação dos valores de ácido úrico 62
10.1.5 Determinação da creatinina 62
10.2 Medição da pressão arterial 63
10.3 Determinação dos parâmetros antropométricos 63
10.4 Determinação dos níveis de PSA 64
10.5 Teste de gravidez 64
10.6 Teste de infeção urinária 64
10.7 Protocolo da diabetes 65
11 Preparação de medicamentos 65
11.1 Preparação de manipulados 65
11.2 Material e equipamento de laboratório 66
11.3 Matérias-primas e reagentes 66
11.4 Regimes de preços e comparticipações 66
12 Contabilidade e gestão 67
12.1 Processamento de receituário 67
12.2 Faturação mensal 68
12.3 Mecanismos fiscais relativos ao IRS, IVA e IRC 68
12.4 Gestão de recursos humanos 69
13 Conclusão 69
Referências bibliográficas 71
xv
xvi
Lista de Figuras
Figura 1 – Histologia do epitélio vaginal humano
Figura 2 – Variação do pH vaginal conforme a idade
Figura 3 – Cortes histológicos da mucosa vaginal humana (a) e de suínos (b) demonstrando
semelhanças morfológicas
Figura 4 – Estrutura molecular da benzidamina
Figura 5 – Metabolitos da benzidamina
Figura 6 – Câmara de difusão vertical
Figura 7 – Funções disponíveis no equipamento
Figura 8 – Comparação entre a permeação de benzidamina, através do epitélio vaginal de
suíno integro e destruído, para o compartimento recetor
Figura 9 – Comparação da concentração de benzidamina obtida até às 5 horas, no
compartimento recetor, entre o suíno A e B
Figura 10 – Comparação da concentração de benzidamina obtida ao longo de 22 horas, no
compartimento recetor, entre o suíno A e B
Figura 11 – Comparação da concentração de benzidamina obtida ao longo do tempo no
compartimento recetor a pH 5 e pH 7.4
Figura 12 – Resistência transepitelial do epitélio vaginal suíno numa das experiências
representativas
Figura 13 – Resistência transepitelial do epitélio vaginal suíno
Figura 14 – Resistência transepitelial em função do tempo
Figura 15 – Comparação entre a concentração de benzidamina obtida através da espetroscopia
e RMN no compartimento recetor
xvii
xviii
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Comparação entre os modelos para estudos da mucosa vaginal humana
Tabela 2 – Espessura (µm) do epitélio escamoso estratificado humano e de porco
Tabela 3 – Fluxo (dpm/cm2/min) ± desvio padrão de água tritiada através do epitélio escamoso
estratificado humano e de porco
Tabela 4 – Parâmetros farmacocinéticos da benzidamina em humanos
Tabela 5 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo de 60 minutos através do epitélio vaginal de suíno integro
Tabela 6 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo de 60 minutos através do epitélio vaginal de suíno destruído
Tabela 7 – Comparação entre os resultados obtidos através de epitélio vaginal integro e
destruído
Tabela 8 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo de 22 horas através de uma membrana de celulose (poro 5-13 µm)
Tabela 9 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo de 22 horas através de uma membrana de celulose (poro 5-13 µm)
Tabela 10 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo de 22 horas através de uma membrana de celulose (poro 35-40 µm)
Tabela 11 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de interferentes,
obtidos ao longo de 13 horas através do epitélio vaginal de suíno
Tabela 12 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo de 22 horas para o suíno A
Tabela 13 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo de 22 horas para o suíno B
Tabela 14 – Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina,
obtidos ao longo do tempo no compartimento recetor a diferentes pH’s (5 e 7.4)
Tabela 15 – Resistência transepitelial do epitélio vaginal obtida através de um multímetro
Tabela 16 – Comparação entre o doseamento dos interferentes do tecido por espetroscopia e
RMN no compartimento dador (epitelial)
Tabela 17 – Comparação entre o doseamento dos interferentes do tecido por espetroscopia e
RMN no compartimento recetor (seroso)
Tabela 18 – Comparação entre o doseamento de benzidamina por espetroscopia e RMN no
compartimento dador
Tabela 19 – Comparação entre o doseamento de benzidamina por espetroscopia e RMN no
compartimento recetor
Tabela 20 – Valores de referência de colesterol e triglicéridos
Tabela 21 – Valores de referência da glicémia
xix
Tabela 22 – Valores de referência da hemoglobina
Tabela 23 – Valores de referência do ácido úrico
Tabela 24 – Valores de referência da creatinina
Tabela 25 – Valores de referência de pressão arterial
Tabela 26 – Valores de referência do IMC
Tabela 27 – Valores de referência do PSA
xx
xxi
Lista de Acrónimos
ANF Associação Nacional de Farmácias
CEDIME Centro Tecnológico do Medicamento
CEFAR Centro de Estudos de Farmacoepidemiologia
CETMED Centro Tecnológico do Medicamento
CICS Centro de Investigação em Ciências da Saúde
CIM Centro de Informação do Medicamento
CIMI Centro de Informação do Medicamento e dos Produtos de Saúde
COOPROFAR COFANOR
Cooperativa dos Proprietários de Farmácia Cooperativa dos Farmacêuticos do Norte
FC Farmácia do Calendário
HBSS Hank’s Balanced Salt Solution
IMC Índice de Massa Corporal
INFARMED Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde
IRC Imposto sobre o Rendimento das pessoas Coletivas
IRS Imposto sobre o Rendimento de pessoas Singulares
IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado
MNSRM Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica
MSRM Medicamentos Sujeitos a Receita Médica
OF Ordem dos Farmacêuticos
PSA Antigénio Específico da Próstata
PVP Preço de Venda ao Público
RMN Ressonância Magnética Nuclear
SNS Sistema Nacional de Saúde
xxii
1
Capítulo 1 – Investigação
1 Introdução
As membranas mucosas, tal como a pele, constituem uma barreira protetora contra agentes
externos (bactérias, vírus, fármacos e outras substâncias) [1]. O estudo da permeação
transepitelial de fármacos é, deste modo, fundamental para garantir a eficácia e segurança
da utilização da pele e das mucosas como vias de administração de fármacos durante o
tratamento de patologias a este nível.
A pele é constituída por três camadas: epiderme, derme (que contem vasos sanguíneos) e
hipoderme. Um fármaco terá que atingir a derme alcançar a circulação sistémica [2].
De forma semelhante à pele, a mucosa é revestida por múltiplas camadas de células epiteliais
escamosas estratificadas que formam a barreira contra agentes externos. No caso particular
do epitélio vaginal, apesar de ser normalmente considerado uma superfície mucosa, este não
possui células caliciformes e não apresenta direta libertação de mucinas, não se tratando, por
isso, de uma verdadeira mucosa [3].Devido à presença desta barreira vários fármacos de
aplicação vaginal, nasal e bucal apresentam fraca absorção e, por vezes, nem chegam a
atingir a circulação sistémica. Deste modo, os seus efeitos terapêuticos estão frequentemente
restritos localmente, após administração tópica [1].
A administração de fármacos através da via vaginal tem sido utilizada ao longo dos tempos,
sendo tão antiga como a própria medicina e farmácia. Os primeiros registos remontam a 1850
a.C. no Egipto onde foram aplicadas preparações vaginais no tratamento de afeções genitais e
na contraceção [4].
A mucosa vaginal devido à elevada área de superfície e vascularização pode aumentar a
biodisponibilidade de algumas substâncias em comparação com outras vias [4]. Esta via pode
ser utilizada tanto para a aplicação de fármacos com vista a ação tópica como para ação
sistémica [4]. Quando se compara a administração tópica de fármacos na mucosa vaginal com
a administração por via oral, a via vaginal é vantajosa quando se pretende obter efeitos
sistémicos, uma vez é que se trata de uma via não invasiva e apresenta uma rede de vasos
sanguíneos densa facilitando a absorção dos fármacos [5]. Além disso, os fármacos
administrados por esta via não sofrem metabolismo de primeira passagem nem estão expostos
à degradação pelo ácido gástrico ou degradação enzimática no trato gastrointestinal [3-6].
Existem, no entanto, algumas desvantagens associadas a esta via, como por exemplo, a
especificidade do género, a influência na relação sexual e na higiene pessoal, e as mudanças
ao longo da idade do epitélio vaginal que podem afetar a taxa e a extensão da absorção de
fármacos [5].
2
Entre os fármacos utilizados com o objetivo de atingir a circulação sistémica encontram-se,
por exemplo, as hormonas anticoncecionais, proteínas e péptidos [4]. No entanto, esta via
tem sido mais utilizada para a administração tópica de fármacos, por exemplo para o
tratamento local de infeções genitais [3].
As alterações existentes ao nível dos parâmetros farmacocinéticos devido a alterações ao
nível da absorção, metabolismo e eliminação de fármacos, determinam a necessidade de
aprofundar o estudo da permeação de fármacos de administração tópica no epitélio vaginal
[4, 7].
Este trabalho tem como objetivo principal escolher um modelo adequado para estudar a
permeação através do epitélio vaginal, para aplicar ao desenvolvimento de novos fármacos e
de novas formulações administradas por esta via.
1.1 Escolha de um modelo de permeação do epitélio vaginal
O epitélio é um dos tecidos primários de mamíferos, que reveste a superfície externa do
corpo, bem como as cavidades do interior do corpo. A sua classificação é baseada em
características como o número de camadas, forma e especialização das células.
Para caracterizarmos um modelo de permeação do epitélio vaginal é importante
estabelecermos dois parâmetros decisivos: Espécie a estudar e molécula de referência.
1.1.1 Características do epitélio vaginal humano
A mucosa vaginal é composta por epitélio escamoso estratificado, não queratinizado e
espesso. Este tipo de epitélio possui uma superfície menos diferenciada do que outros
epitélios, como a mucosa oral, sendo mais flexível [8, 9]. A superfície da maioria das mucosas
é húmida devido a secreções das glândulas no tecido interior ou adjacente, no entanto na
mucosa vaginal não existem estruturas glandulares. Esta mucosa permanece húmida devido a
secreções de glândulas do cérvix, não sendo por isso uma verdadeira mucosa [3, 4, 8].
O epitélio é suportado por tecido conectivo, que desempenha um papel importante na sua
manutenção e resposta a agressões. É constituído por colagénio numa matriz com elementos
vasculares, neuronais, leucócitos polimorfonucleares, linfócitos e alguns nódulos linfáticos [8,
9].
As camadas superficiais do epitélio da mucosa escamosa estratificada formam uma barreira
de permeabilidade que protege o tecido mais profundo de substâncias potencialmente nocivas
que podem penetrar e iniciar alterações patológicas. Devido à sua localização nas células
diferenciadas terminais do epitélio e à sua natureza lipídica, a barreira de permeabilidade é
relativamente inerte e a sua função não depende dos processos metabólicos ativos envolvidos
3
na penetração através do epitélio simples, como acontece na mucosa intestinal. Deste modo,
a função barreira da mucosa pode ser mantida por extensos períodos de tempo ex vivo [8].
Figura 1: Histologia do epitélio vaginal humano, adaptado de Costin et al [9].
O epitélio vaginal está sujeito a várias alterações fisiológicas, entre elas, alterações cíclicas
na espessura do epitélio, gravidez, alteração na concentração de enzimas, variações ao longo
da idade, produção de fluido, extensão da descarga vaginal e variações do pH [5, 6]. O pH
vaginal é, normalmente, acídico em mulheres saudáveis, representando um papel
fundamental na prevenção da proliferação de microrganismos patogénicos. Este encontra-se
entre 3.5 e 4.5, sofrendo alterações durante o ciclo menstrual, verificando-se uma redução a
meio do ciclo e um aumento durante a menstruação. Além da interferência do ciclo
menstrual, o pH também pode ser alterado na presença de infeções bacterianas, que elevam
o pH para valores entre 5.0-6.5, e pela idade [4, 6, 10].
Figura 2: Variação do pH vaginal conforme a idade [7].
Camada apical
Camada constituída por glicogénio
Camada suprabasal
Camada basal
Lamina própria (contendo fibroblastos e outras
tipos de células)
4
1.1.2 Modelos para o estudo da mucosa vaginal
A disponibilidade de tecidos humanos para fins experimentais está muitas vezes limitada
devido a requisitos éticos e regulamentares sendo utilizado, em alternativa, animais
experimentais, células, tecidos e sistemas de cultura de órgãos como modelo de tecido
humano [5, 8].
É importante compreender a morfologia do epitélio vaginal humano ao selecionar um modelo
experimental apropriado para estudar a permeabilidade de fármacos. Entre os vários modelos
(suínos, coelhos, roedores, macacos e cultura celular), o epitélio vaginal de suínos apresenta
uma grande semelhança com o humano em termos de anatomia, fisiologia, metabolismo e
patologia [8]. Um estudo demonstrou que, devido à semelhança das características da vagina
de suínos com a humana em termos de pH, secreções e resposta inflamatória, este é um bom
modelo para estudar a irritação vaginal [8, 11].
Tabela 1: Comparação entre os modelos para estudos da mucosa vaginal humana, adaptado de Squier et
al [8].
Modelo Características Vantagens Desvantagens
Suíno
Mucosa vaginal com
superfície não
queratinizada
Assemelha-se
estruturalmente e
funcionalmente ao
humano
Pode ser dispendioso
para manter; Os animais
crescem e podem se
tornar difíceis de
manusear
Suíno – ex vivo
Mucosa vaginal com
superfície não
queratinizada e tecido
conectivo
Assemelha-se
estruturalmente ao
humano, e em alguma
extensão,
funcionalmente;
Fácil de obter e
económico;
Sem considerações
regulamentares
Sem sistema vascular –
limita a resposta
funcional
Humano – ex vivo
Mucosa vaginal não
queratinizada e tecido
conectivo
Mantem-se viável pelo
menos até 12 horas após
a remoção do tecido
Difícil de obter;
Faixa etária limitada;
Tecido fresco-
transferência potencial
de agentes infeciosos
5
Vários estudos demonstraram semelhanças significativas entre a mucosa vaginal humana e de
suínos ao nível da histologia, ultraestrutura, composição da barreira e permeabilidade. Estes
estudos revelaram semelhanças na morfologia entre as espécies, dado que, ambas possuem
um epitélio superficial escamoso, estratificado e não queratinizado (figura 3) [8, 9].
Figura 3: Cortes histológicos da mucosa vaginal humana (a) e de suínos (b) demonstrando semelhanças
morfológicas [8].
Tabela 2: Espessura (µm) do epitélio escamoso estratificado humano e de porco, adaptado de Squier et
al [8].
Local Humano Porco
Mucosa vaginal 150-200 µm 116 µm
Estruturalmente, o epitélio vaginal de suínos assemelha-se ao dos humanos, inclusive na
organização dos grânulos revestidos por membrana e lamelas lipídicas intercelulares que
constituem a barreira de permeabilidade. Além disso, verificam-se concentrações idênticas
de lípidos, incluindo ceramidas, glicosil ceramidas e colesterol, que são componentes da
barreira de permeabilidade, entre o epitélio vaginal de suínos e humanos.
Um estudo, em que foi utilizado água tritiada como padrão comparativo, demonstrou que a
permeabilidade da mucosa vaginal de suínos a 37 ˚C é muito semelhante aos valores para os
humanos (tabela 3), verificando-se o mesmo para outros compostos como a água e a
vasopressina. No entanto, para compostos lipossolúveis, como a r-arecolina e oxitocina,
observou-se diferenças na permeabilidade entre o epitélio vaginal humano e de suínos [8].
Tabela 3: Fluxo (dpm/cm2/min)± desvio padrão de água tritiada através do epitélio escamoso
estratificado humano e de porco, adaptado de Squier et al [8].
Local Humano Porco
Mucosa vaginal 4155±70 4667±282
6
O tecido de suínos é facilmente adquirido em matadouros e mantém a sua função de barreira
pelo menos até 12 horas após a morte do animal. Após a recolha do tecido é necessário
proceder ao seu armazenamento, que pode ser congelado em azoto liquido não se tendo
verificado alterações significativas na permeabilidade da água ou na estrutura histológica da
mucosa oral de suínos e humanos. O mesmo se verificou para a permeação da água através da
mucosa vaginal humana [8].
O armazenamento de tecido, também, é possível pelo simples congelamento para estudos de
permeação [12].
O tecido conjuntivo mucosal contém células inflamatórias que, possivelmente, mantêm a
reatividade por 12 horas após a remoção do animal. Esta característica, que não se manifesta
em outros modelos epiteliais, é importante para avaliar o efeito irritante na mucosa dos
agentes terapêuticos aplicados topicamente [8].
1.1.3 Mecanismos de transporte através do epitélio vaginal
A difusão de fármacos através das mucosas é influenciada pelas propriedades físico químicas
do agente testado, ou seja, o peso molecular, solubilidade, taxa de dissolução, lipofilicidade,
características de ionização e estabilidade química, tal como pelas características da
membrana.
Os fatores fisiológicos também representam um papel importante no processo de difusão,
como por exemplo, alterações cíclicas na espessura do epitélio vaginal, volume de produção
de fluido, idade, gravidez e alterações do pH vaginal [5, 6]. Entre os fatores fisiológicos o que
causa maiores alterações é a idade, que influência a espessura da camada epitelial, a
concentração de diversas enzimas, a produção de fluído vaginal e a extensão da descarga
vaginal [6]. As alterações no pH vaginal podem influenciar a libertação de fármacos sensíveis
ao pH a partir de sistemas de libertação vaginal e o grau de ionização dos fármacos, afetando
a absorção dos mesmos. As moléculas lipofílicas permeiam mais rapidamente que moléculas
hidrofílicas, tal como as moléculas no estado não ionizado [5, 7].
Os fármacos atravessam a membrana vaginal através de três vias principais, a via
transcelular, onde a passagem através das células depende da concentração, a via
paracelular, mediada pelas tight junctions, e ainda o transporte mediado por vesículas ou
recetores [6]. Para a maioria dos fármacos aplicados na mucosa, a via transcelular de difusão
parece predominar [5, 6]. No entanto, a maior parte dos compostos hidrofóbicos são,
principalmente, absorvidos através da via paracelular, enquanto os hidrofílicos são absorvidos
através de poros presentes na mucosa vaginal [6].
Apesar da semelhança entre os epitélios vaginais do ser humano e do suíno na permeação de
moléculas hidrofílicas, esta semelhança não se verifica para as moléculas lipossolúveis. Deste
7
modo, a mucosa vaginal de suínos é considerada um bom modelo de permeabilidade in vitro
para a mucosa vaginal de humanos, especialmente no caso de compostos hidrofílicos. No
entanto, para estudar a permeação de fármacos lipofílicos a extrapolação para o ser humano
deve ser cautelosa, uma vez que ocorrem grandes diferenças na permeação destes fármacos
[5].
1.2 Benzidamina
Na cavidade vaginal é frequente o desenvolvimento de infeções, as vaginites, que envolvem
irritação vulvovaginal, prurido, dor ao urinar e são acompanhadas por secreções anormais [13,
14].Entre as infeções vaginais mais comuns encontram-se a bacteriose vaginal, candidose
vulvovaginal e tricomoníase. O cloridrato de benzidamina apresenta-se como uma abordagem
terapêutica possível, por possuir uma ação antisséptica, antibacteriana e anti-inflamatória,
tendo sido aplicado com sucesso em ginecologia [13-15].
1.2.1 Características farmacológicas
A benzidamina (1-benzil-3-(3 dimetilaminopropoxi)1H – indazol cloridrato)[16] é uma amina
terciária com uma aplicação terapêutica generalizada, devido à sua atividade anti-
inflamatória (AINE), analgésica e antipirética [13, 17, 18]. É utilizada frequentemente em
várias preparações devido à baixa incidência de efeitos adversos quando aplicada localmente,
sendo útil, em ginecologia, no tratamento de infeções por Trichomonas vaginalis e
Gardnerella vaginalis. Além da sua eficácia como anti-inflamatório, também atua como um
bom antisséptico, diretamente proporcional ao pH do ambiente, contra vários microrganismos
em aplicações tópicas, a uma concentração de 1.5 mg/mL [13, 17]. Apresenta, ainda,
atividade antibacteriana contra estirpes resistentes a antibióticos de largo espetro, como a
ampicilina, cloranfenicol e tetraciclina, em concentrações utilizadas em desinfetantes bucais
(3 mmol/L).
Figura 4: Estrutura molecular da benzidamina, adaptado de Quane et al. [17].
8
O mecanismo de ação da benzidamina não está totalmente esclarecido, contudo muitos
efeitos farmacológicos são conhecidos. A sua absorvência e fluorescência na região do
ultravioleta (excitação 306 nm; emissão 362nm) podem estar associadas com um possível
efeito farmacológico [17].
A benzidamina é uma base, normalmente formulada como um sal de cloridrato, que é
altamente lipossolúvel na sua forma não ionizada (Coeficiente de partição-
octanol/água=3.71), ao contrário de outros fármacos anti-inflamatórios que são normalmente
ácidos ou metabolizados a ácidos [17, 19]. Este fármaco apresenta um pKa na forma catiónica
de 9.2 [19].
1.2.2 Farmacocinética
A benzidamina é pouco absorvida através da pele e mucosas sendo rapidamente absorvida
através do trato gastrointestinal [17, 20]. A difusão e a solubilidade deste fármaco estão
dependentes do pH do meio, verificando-se a pH 9 uma maior fração não-ionizada. No
entanto, verificou-se um aumento da permeação deste através das membranas com o
aumento do pH na faixa de 5 a 7.6, em que para valores de pH superiores esta relação deixa
de se verificar, possivelmente, devido a uma diminuição da solubilidade [19].
A benzidamina apresenta uma baixa capacidade de ligação a proteínas, que conjugada com a
sua elevada solubilidade lipídica na forma não-ionizada, leva, possivelmente, a uma livre
difusão para as células. O seu volume de distribuição é um pouco superior ao da água
corporal, o que sugere alguma ligação aos tecidos. A distribuição assemelha-se a vários
fármacos básicos lipossolúveis embora seja absorvido pelos tecidos em menor extensão [17].
Tabela 4: Parâmetros farmacocinéticos da benzidamina em humanos [17].
Parâmetros Valor
Clearance sistémica 170 ml/min
Volume de distribuição 10 L
Tempo de meia-vida 7.7 h
Pico de concentração plasmática
de desinfetante bucal 0,05 µmol/L
Concentração oral local após
desinfetante bucal 4 mmol/L
Pico de concentração plasmática
após dose oral 1,5µmol/L
Absorção gastrointestinal Rápida e completa
Ligação a proteínas plasmáticas < 20 %
9
A forma como ocorre a eliminação da benzidamina ainda não foi totalmente esclarecida,
alguns autores demonstraram que 50 a 60% é excretada na forma inalterada na urina, no
entanto outros apenas verificaram uma eliminação de 5%. Uma vez que a benzidamina, na
forma de base, é muito lipossolúvel deve apresentar uma elevada reabsorção passiva no tubo
renal, o que sugere uma pequena eliminação na forma inalterada [17].
Vários metabolitos oxidados são excretados na forma inativa na urina, sendo que o N-óxido de
benzidamina atinge concentrações plasmáticas de 0.6µmol/L. Além deste, outros metabolitos
podem estar presentes no plasma [17].
10
Figura 5: Metabolitos da benzidamina [17].
1.2.3 Efeitos na inflamação
Estudos com animais demonstraram que as propriedades da benzidamina assemelham-se às do
grupo dos fármacos anti-inflamatórios não esteroides. Reduz a inflamação induzida
localmente, o edema, a formação de granulomas e apresentou atividade antipirética e anti-
11
exsudativa. No entanto, difere dos outros AINE’S uma vez que atua em fatores locais da
inflamação, não interagindo com os mecanismos fisiológicos sistémicos.
A benzidamina inibe a venoconstrição dos vasos sanguíneos, a vasodilatação e o aumento da
permeabilidade vascular induzida pela histamina, diminuindo, deste modo, as alterações
vasculares que podem ocorrer durante a inflamação [17].
1.2.4 Efeito no metabolismo do ácido araquidónico
A benzidamina é um inibidor fraco da síntese de prostaglandinas, ao contrário dos AINE’s
acídicos, não sendo, por isso, tóxica para o trato gastrointestinal. Em algumas condições, a
síntese de prostaglandinas E2 é induzida pela benzidamina [17, 21]. Além disso, inibe também
a lipoxigenase, que pode contribuir para a sua atividade anti-inflamatória. No entanto, não
inibe a síntese de leucotrienos, eliminando uma ação de 5-lipoxigenase, reduzindo apenas a
síntese do ácido hidroxieicosatetraenóico, um produto da lipoxigenase envolvido na
leucostase. Deste modo, a ação da benzidamina é mais provável na 12-lipoxigenase, que está
envolvida na síntese de ácido hidroxieicosatetraenóico, em vez da 5-lipoxigenase (envolvida
na síntese de leucotrienos)[17].
1.2.5 Efeitos enzimáticos
A benzidamina apresenta um pequeno número de efeitos em enzimas, que estão envolvidas
com a síntese de prostaglandina ou no processo oxidativo dos neutrófilos ou monócitos. Reduz
a lipólise através da inibição direta da lípase triglicerídica sensível a hormonas em células de
gordura estimuladas com noradrenalina, bem como inibe a glucosamina-6-fosfato sintetase,
uma enzima envolvida na síntese de mucopolisacarídeos. Porém, as concentrações necessárias
para a inibição da glucosamina-6-fosfato são muito elevadas, 2-4mmol/L, sendo pouco
provável ocorrer dentro de todos os tecidos [17].
1.3 Métodos de estudo de permeação
Para mimetizar a permeação transmucosal de um ser vivo deverá ser tido em conta o fluxo
sanguíneo que envolve essas mucosas. Deste modo, para estudos de permeação in vitro
podem ser utilizados dois tipos de células de difusão, as células do tipo Ussing e as células de
Franz, exatamente para representar esta situação [22]. Tradicionalmente, para estudos de
permeação têm sido utilizado as células de Franz, um método simples mas que apresenta
algumas desvantagens e limitações, como a formação de bolhas de ar ao retirar as amostras
do compartimento recetor e a falta de controlo da viabilidade [12, 22, 23]. Apesar da
semelhança com as células de Franz, a Ussing chamber está equipada com circulação e
oxigenação das soluções tampão, quer do lado recetor como dador, e ainda permite medir
parâmetros elétricos através da membrana controlando assim a viabilidade do tecido [12, 24].
12
1.3.1 Ussing Chamber
A técnica de Ussing Chamber é um sistema in vitro desenvolvido por Hans Ussing (1948),
originalmente utilizado para caracterizar o transporte de iões através de membranas
biológicas. No entanto, também tem sido utilizado para estudar a absorção de fármacos
através de vários tipos de membranas e epitélios, incluindo o vaginal. É constituído por duas
semi-câmaras separadas por uma membrana que permite a medição de propriedades
electrofisiológicas, tais como, potenciais elétricos, correntes curto-circuito, resistência e
condutância de tecidos e linhagens de células [24-27].
1.3.1.1 Tipos de câmaras
Este método permite a aplicação de dois tipos de câmaras de difusão, as câmaras de difusão
vertical e horizontal. O sistema de difusão vertical é utilizado em estudos de transporte,
dispondo de câmaras para aplicação de culturas celulares e câmaras para aplicar porções de
tecido [28]. Este sistema é constituído por câmaras de difusão, com oxigenação do tecido,
agitação do meio, e um banho que permite controlar a temperatura e adaptar a condições
experimentais. Além do sistema de oxigenação e de aquecimento, este sistema permite ainda
a medição dos parâmetros elétricos [27, 28].
1.3.1.2 Tipos de medições transepiteliais
1.3.1.2.1 Voltagem transepitelial
Os iões têm a capacidade de atravessar o tecido epitelial seja, por exemplo, por gradiente de
concentração ou transportadores. Esta passagem de iões, através do epitélio, gera uma
diferença de potencial que é designada como potencial do transporte ativo. Este potencial de
transporte deve-se à distribuição assimétrica de canais de iões entre o lado apical e
basolateral das células. O movimento de cargas positivas ou negativas entre o lado apical e o
lado basolateral dá origem a uma voltagem que corresponde à diferença de potencial entre os
dois lados da membrana [26, 29].
1.3.1.2.2 Resistência transepitelial
Duas características diferenciam o epitélio dos outros tecidos, uma polaridade e uma
estrutura que mantem a integridade física e funcional. A polaridade está associada à
distribuição assimétrica de proteínas dos dois lados da membrana e o conjunto destas
proteínas, que fazem parte das tight junctions, ligam as células entre si. A formação e a
permeabilidade destas proteínas determinam a resistência e a integridade do tecido [29]. A
resistência é uma medida útil para avaliar a integridade do tecido. Grandes alterações da
resistência estão associadas a efeitos indesejáveis na integridade do tecido, e também
funcionam como indicador de permeabilidade [24, 30-32]. A integridade das tight junctions
pode ser medida eletricamente através da resistência, que é influenciada pelo tratamento do
tecido e o design da câmara. Um erro nestes dois pontos pode tornar a medição elétrica da
resistência transepitelial impossível [29].
13
1.3.1.2.3 Medição em Open circuit ou em Short-circuit
As medições elétricas transepiteliais podem ser realizadas em short-circuit ou em open
circuit. Em condições short-circuit, é induzida no epitélio uma corrente de forma a manter a
voltagem transepitelial a 0 mV. O ajuste (clamping) do potencial a 0 mV elimina a influência
das forças de difusão transepiteliais (difusão passiva) sendo observado apenas o movimento
relacionado com o potencial do transporte ativo. Durante as medições a voltagem é
intermitentemente ajustada para valores diferentes de 0 mV, permitindo assim estimar a
resistência transepitelial e monitorizar a integridade do tecido. A short-circuit current (ISC) é
calculada através da lei de Ohm:
O transporte iónico transepitelial nas condições de short-circuit pode não refletir com
precisão o estado do transporte das células, uma vez que a própria reserva de energia das
células pode esgotar e, em último caso, danificar o tecido. Outra abordagem, que pode
resolver este problema, é ajustar a corrente em vez da voltagem (current clamp). Neste caso,
o tecido não está exposto a uma voltagem mas sim a pulsos de corrente que são transmitidos
através de um gerador de pulsos. No entanto, a corrente que passa através do tecido gera
apenas uma pequena deflexão na voltagem deixando a célula intacta a maior parte do tempo
durante as medições. O sinal medido, a corrente, é depois transformado em voltagem[24, 26,
27, 29].
1.3.1.3 Limitações da técnica
Tal como outras técnicas in vitro, a de Ussing chamber também possui algumas limitações. A
remoção do tecido suprime ou diminui drasticamente a ação de qualquer substância
endócrina e qualquer influência dos nervos centrais, o que poderá influenciar a absorção. No
entanto, mantem-se preservado o sistema nervoso entérico e o sistema imunitário local [27].
Além disso, apresenta uma área de superfície pequena e a falta de uma circulação ativa [30].
A viabilidade do tecido constitui outra limitação. O estudo histológico de tecido de suíno após
2 horas de experiência demonstrou um edema inicial em todos os tecidos conjuntivos, bem
como a descamação de muitas células na superfície luminal. No entanto, as tight junctions
permaneceram intactas.
De forma a minimizar a perda de viabilidade do tecido, as experiências devem ser realizadas
durante um período limitado, podendo ser adicionados nutrientes específicos ao tampão e os
próprios parâmetros elétricos servem como controlo da viabilidade [27].
(1)
14
2 Material e métodos
2.1 Preparação de HBSS
A solução salina de Hanks (HBSS - Hanks' balanced salt solution) foi preparada de acordo com
as informações do produto disponibilizadas pela SIGMA®. É composta por: KH2PO4 (0,4 mM),
KCl (5,4 mM), NaCl (137 mM), D-glucose (5,6 mM), Na2HPO4 (0,3 mM) e NaHCO3 (4,2 mM). Os
reagentes foram adquiridos ao laboratório Panreac Quimica S.A.®, com exceção da D-glucose
e o bicarbonato de sódio que foram fornecidos pela Sigma-Aldrich®. Esta solução foi
preparada a dois pH’s, a pH 5 e 7.4.
2.2 Preparação da solução de benzidamina
A solução de cloridrato de benzidamina foi preparada em meio HBSS, conforme o pH utilizado
nas experiências (pH 5 e 7.4). O cloridrato de benzidamina foi fornecido pela Sigma-Aldrich®.
2.3 Epitélio vaginal e intestinal de suínos
Os epitélios vaginal e intestinal foram adquiridos num matadouro local (Oviger, Alcains,
Castelo Branco). As amostras foram preparadas imediatamente após a sua recolha.
2.3.1 Preparação das amostras
Após a remoção da camada adiposa em excesso, o epitélio foi imerso em HBSS e armazenado
a -20˚C envolvido em papel de alumínio.
Para a realização das experiências o tecido foi descongelado em HBSS, num banho a 37˚C e
destacada cuidadosamente a superfície epitelial do tecido.
2.4 Membranas artificiais
As membranas artificiais utilizadas foram fornecidas pela VWR®, com um poro de 5 a 13 µm, e
pela ALBET LabScience®, com um poro de 35 a 40 µm.
2.5 Metodologia para ensaios em Ussing Chamber
O equipamento, fornecido pela Warner Instruments®, é constituído por câmaras verticais de
difusão e elétrodos que permitem a medição dos parâmetros elétricos. As membranas
(biológicas e artificiais) foram colocadas entre as semi-câmaras de difusão (com uma área de
exposição de 0,64 cm2 e um volume de 6 mL). Foi adicionado a cada compartimento da
câmara, dador e recetor, HBSS com um determinado pH. O compartimento dador corresponde
à camada epitelial do tecido e o compartimento recetor à camada serosa. Estas câmaras
foram oxigenadas através de uma bomba de ar e mantidas a 37˚C através de um banho
termostatizado. Após a montagem das câmaras permitiu-se um período de estabilização de
aproximadamente 40 minutos.
15
Figura 6: Câmara de difusão vertical [33].
Os ensaios foram realizados em dois modos, em open e clamp da voltagem, selecionado no
equipamento (figura 7). No modo clamp da voltagem foi aplicada uma corrente de forma a
manter a voltagem transepitelial a 0 mV [29].
Figura 7: Funções disponíveis no equipamento.
16
2.6 Método de doseamento da benzidamina
As alíquotas recolhidas ao longo do tempo foram quantificadas através de dois métodos de
deteção, a espetroscopia Ultravioleta-visível e Ressonância Magnética Nuclear (RMN).
2.6.1 Espetroscopia Ultravioleta-Visível
No espetrofotómetro Ultravioleta-visível, fornecido pela Pharmacia Biotech®, utilizou-se um
comprimento de onda de 306 nanómetros (nm) para a quantificação da benzidamina [13].
Com o objetivo de elaborar uma reta de calibração foram preparadas várias soluções padrão
de benzidamina, com diferentes concentrações, e registadas as respetivas absorvências no
espetrofotómetro a 306 nm. Deste modo, a partir da reta de calibração e da leitura de
absorvência das alíquotas retiradas do sistema foi calculada a respetiva concentração de
benzidamina. Como branco foi utilizado a solução de HBSS.
2.6.2 RMN
Os espetros de RMN da benzidamina foram obtidos num espetrofotómetro Bruker Avance III e
registados a 600 MHz. Às alíquotas recolhidas foi adicionado uma concentração de fumarato
conhecida de modo a quantificar a benzidamina.
17
3 Resultados e Discussão
3.1 Estudo A
Este estudo, que designamos por A para facilidade de compreensão, teve como objetivo
estabelecer o protocolo de trabalho. As variáveis estudadas foram:
Permeação através do epitélio vaginal de suíno;
Permeação através de membrana artificial de celulose;
Intervalos de tempo estudados variaram entre 1 hora e 22 horas de ensaio.
As condições utilizadas ao longo das experiências foram as seguintes:
Solução salina (HBSS) a pH 5;
Concentração da molécula de referência em estudo (benzidamina) de 50µg/mL.
3.1.1 Estudo da permeação de benzidamina através de epitélio vaginal de
suíno
Demos início à otimização do protocolo testando a permeação do fármaco modelo, a
benzidamina, através do epitélio vaginal de suíno. O meio utilizado foi o tampão HBSS a pH 5
e a benzidamina foi quantificada por espetrofotometria a 306nm. A tabela 5 apresenta os
resultados obtidos, nas condições referidas, numa das experiências representativas.
Tabela 5: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, obtidos ao longo
de 60 minutos, através do epitélio vaginal de suínos integro.
Tempo (min) Absorvência(306nm) –
Compartimento recetor
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
Absorvência(306nm) – Compartimento dador
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
0 (Controlo*)
0,013 0,82** 0,008 0,50**
15 0,008 0,50 0,603 38,88
30 0,008 0,50 0,700 45,14
45 0,012 0,75 0,707 45,59
60 0,013 0,82 0,717 46,24
*Controlo – meio em contacto com o epitélio; ** Valor calculado com base na absorvência
medida
A interferência na quantificação da benzidamina pelo binómio epitélio vaginal/meio HBSS foi
um dos principais aspetos que se tornou evidente nesta primeira abordagem.
Pela análise dos resultados obtidos, verifica-se que existe uma tendência para o aumento da
concentração ao longo do tempo no compartimento recetor indicando uma possível
permeação do fármaco, ainda que em baixas concentrações. No entanto, no compartimento
18
dador não foi possível quantificar a benzidamina corretamente, como se pode observar na
tabela anterior.
As experiências efetuadas demonstraram uma ausência de reprodutibilidade e, como já
referimos, este fato sugere a existência de fatores que interferem na quantificação da
benzidamina por espetrofotometria.
Uma das hipóteses discutidas foi a eventual falta de sensibilidade do método de doseamento,
que poderá não ser o mais favorável, bem como a existência de um interferente no
doseamento do fármaco detetado na leitura do controlo (meio em contacto com o epitélio).
Por vezes os valores de absorvência foram tão diminutos que se colocou a hipótese de não
existir qualquer tipo de permeação ou de o equipamento não estar a ser utilizado da melhor
forma. Para testar estas hipóteses foram efetuadas duas experiências em que foi estudada a
permeação de benzidamina através de epitélio vaginal destruído e de membranas artificiais.
3.1.2 Estudo da permeação de benzidamina através de epitélio vaginal de
suíno destruído
A permeação da benzidamina, através de uma membrana previamente destruída (orifício
efetuado com um alfinete), realizou-se nas mesmas condições que a experiência anterior
(3.1.1). Na tabela 6 podemos observar os resultados obtidos no ensaio representativo das
experiências efetuadas.
Tabela 6: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, ao longo de 60
minutos, através do epitélio vaginal de suíno destruído.
Tempo (min) Absorvência (306nm)–
Compartimento recetor
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
Absorvência(306nm)- Compartimento dador
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
0 (Controlo*)
0,026 1,66** 0,009 0,56**
15 0,016 1,01 0,680 43,85
30 0,029 1,85 0,727 46,88
45 0,020 1,27 0,722 46,56
60 0,018 1,14 0,728 46,95
*Controlo – meio em contacto com o epitélio; ** Valor calculado com base na absorvência
medida
Os resultados obtidos mais uma vez apresentam valores de alguma forma erráticos, isto é,
sem relação tempo/concentração. Verificou-se que no compartimento recetor não existe uma
linearidade na concentração, que deveria aumentar ao longo do tempo, porém os valores são,
sensivelmente, mais elevados do que os adquiridos para o tecido com a função barreira
integra (tabela 5). No compartimento dador não verificamos uma redução da concentração,
que pelo contrário aumenta ao longo do tempo, tal como verificado na experiência anterior.
19
Ao longo destes ensaios considerámos que o fator tempo deveria ser alterado, bem como a
utilização de recipientes de plástico, como eppendorf’s, para a recolhas das alíquotas. Estes
recipientes alteram os resultados, talvez devido a uma adsorção ao material ou precipitação
do fármaco.
3.1.2.1 Comparação entre a permeação da benzidamina através do epitélio
vaginal de suíno integro e destruído
As experiências realizadas demonstraram que ocorreu uma maior permeação da benzidamina
através do epitélio destruído, em comparação com o epitélio integro. Este fato comprova que
o epitélio constituiu uma barreira à passagem do fármaco o que valida as condições da
obtenção da amostra biológica e a preparação da mesma.
Tabela 7: comparação entre os resultados obtidos através de epitélio vaginal integro e destruído.
Compartimento recetor (lado seroso) Compartimento dador (lado
epitelial)
Tempo
(minutos)
Concentração de
benzidamina
epitélio integro
(µg/mL)
Concentração de
benzidamina
epitélio
destruído
(µg/mL)
Concentração de
benzidamina
epitélio integro
(µg/mL)
Concentração de
benzidamina
epitélio
destruído
(µg/mL)
0 (controlo*)
0,82 1,66** 0,50 0,56**
15 0,50 1,01 38,88 43,85
30 0,50 1,85 45,14 46,88
45 0,75 1,27 45,59 46,56
60 0,82 1,14 46,24 46,95
*Controlo – meio em contacto com o epitélio; ** Valor calculado com base na absorvência
medida
20
Figura 8: Comparação entre a permeação de benzidamina, através do epitélio vaginal de suíno integro e
destruído, para o compartimento recetor.
3.1.3 Estudo da permeação de benzidamina através de membranas
artificiais
O estudo da permeação da benzidamina através de membranas artificiais teve como objetivo
principal verificar se o método de quantificação da benzidamina estaria sujeito a fatores
interferentes associados à presença do tecido.
Deste modo, testou-se duas membranas de celulose com diferente porosidade, bem como a
adição de diferentes concentrações de fármaco no compartimento doador.
3.1.3.1Membrana de celulose com poro de 5-13 µm
Foram realizados dois ensaios com diferentes concentrações de benzidamina, a 10 µg/mL e a
50 µg/mL, numa membrana de celulose com um poro de 5 a 13 µm de forma a estabelecer
uma comparação dos perfis de permeação. Na tabela 8 podemos observar os resultados
obtidos.
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
0 20 40 60 80
Co
nce
ntr
ação
de
ben
zid
amin
a (µ
g/m
L)
Tempo (minutos)
Compartimento recetor
Epitélio Integro
Epitélio destruido
21
Tabela 8: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, obtidos ao longo
de 22 horas através de uma membrana de celulose (poro 5-13µm).
Tempo (horas) Absorvência(306 nm) –
Compartimento recetor
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
Absorvência(306nm) – Compartimento
dador
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
0 (Controlo*)
0,001 0,305** 0,001 0,305**
1 0,008 0,760 0,159 10,565
2 0,004 0,500 0,152 10,110
3 0,003 0,435 0,149 9,916
4 0,008 0,760 0,139 9,266
5 0,004 0,500 0,142 9,461
22 0,024 1,799 0,144 9,591
*Controlo – meio em contacto com a membrana de celulose; ** Valor calculado com base na
absorvência medida
No compartimento dador verifica-se uma ligeira descida na concentração, ainda que não
linear, ao passo que durante as primeiras horas no compartimento recetor os valores variam
muito sendo inconclusivos. Após cerca de 22 horas observa-se no compartimento recetor um
ligeiro aumento na concentração de benzidamina.
O valor de absorvência do branco, praticamente nulo, sugere que a interferência verificada
quando se aplica tecido seja de algum componente libertado pelo mesmo.
Por outro lado, com uma concentração de benzidamina cinco vezes maior (tabela 9), 50
µg/mL, os resultados encontram-se dentro do expectável, em que ao longo do tempo se
verifica uma diminuição da concentração do compartimento dador e um aumento no
compartimento recetor. Pela análise dos resultados obtidos consideramos também a hipótese
do método de quantificação da benzidamina não ser suficientemente sensível e preciso para
concentrações baixas.
22
Tabela 9: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, obtidos ao longo
de 22 horas através de uma membrana de celulose (poro 5-13 µm).
Tempo (horas) Absorvência(306nm)
– Compartimento recetor
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
Absorvência(306nm) – Compartimento
dador
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
0 (Controlo*)
0,003 0,435** 0,003 0,435**
1 0,014 1,149 0,767 50,045
2 0,021 1,604 0,722 47,123
3 0,024 1,799 0,755 49,266
4 0,028 2,058 0,748 48,812
5 0,039 2,773 0,731 47,708
22 0,207 13,682 0,592 38,682
*Controlo – meio em contacto com a membrana de celulose; ** Valor calculado com base na
absorvência medida
3.1.3.2 Membrana de celulose com poro 35-40 µm
O estudo da permeação da benzidamina através de uma membrana de celulose com um poro
maior do que o utilizado anteriormente (3.1.3.1) apenas teve como objetivo verificar se o
modelo num todo permitiria identificar diferenças interindividuais, uma vez que as
membranas a estudar são provenientes de diferentes animais, mesmo que sejam da mesma
espécie. A tabela 10 apresenta os resultados obtidos ao longo desta experiência.
Tabela 10: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, obtidos ao
longo de 22 horas através de uma membrana de celulose (35-40 µm).
Tempo (horas) Absorvência (306 nm)
- Compartimento recetor
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
Absorvência (306 nm) – Compartimento
dador
Concentração de
benzidamina (µg/ml)
0 (Controlo*)
0,003 0,435** 0,004 0,500**
1 0,023 1,734 0,789 51,474
2 0,038 2,708 0,795 51,864
3 0,047 3,292 0,775 50,565
4 0,055 3,812 0,756 49,331
5 0,078 5,305 0,747 48,747
22 0,306 20,110 0,612 39,981
*Controlo – meio em contacto com a membrana de celulose; ** Valor calculado com base na
absorvência medida
Analisando o perfil de permeação da benzidamina entre dois poros diferentes verificou-se
que, no compartimento recetor, quanto maior o poro maior a permeação do fármaco, estando
de acordo com o esperado. Os dados do compartimento dador indicam, também, uma
23
permeação do fármaco. O aumento do tempo de experiência demonstrou ser favorável para o
estudo, porque determina maiores variações de concentração entre diferentes tempos.
3.1.4 Estudo do comportamento dos interferentes libertados pelo tecido
A experiência com as membranas de celulose demonstrou que os componentes libertados
pelo tecido causam variações erráticas nas leituras espectrofotométricas. Para estudar a
influência dos fatores libertados pelo tecido nas leituras de absorvência ao longo do tempo,
efetuámos experiências em que o sistema era composto apenas pelo tecido e HBSS na
câmara, sem qualquer adição de fármaco. Os resultados obtidos podem ser observados na
tabela 11.
Tabela 11:Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de interferentes, obtidos ao
longo de 13 horas através de epitélio vaginal de suíno.
Tempo (minutos) Absorvência(306nm)
– Compartimento recetor
Concentração de interferentes
(µg/ml)*
Absorvência(306nm) – Compartimento
dador
Concentração de
interferentes (µg/ml)*
0 0,039 2,497 0,027 1,723
30 0,039 2,497 0,052 3,335
60 0,046 2,948 - -
90 0,048 3,184 - -
120 0,043 2,952 - -
184 0,039 2,774 - -
768 0,540 40,176 0,346 22,303
*Valor calculado através da reta de calibração preparada a partir da benzidamina, com base na
absorvência medida
A análise dos resultados obtidos revela que à medida que o tempo aumenta existe uma
tendência para o tecido libertar uma maior quantidade de interferentes. Verifica-se,
também, que ao fim de aproximadamente 13 horas o compartimento recetor apresenta uma
maior influência que o compartimento dador, possivelmente devido à diferente composição
entre o lado epitelial e seroso.
3.2 Estudo B
3.2.1 Variabilidade interindividual das amostras
Para estudar a influência da variabilidade interindividual na permeação da benzidamina,
realizou-se a comparação entre tecido proveniente de suínos diferentes, em que as condições
utilizadas foram as mesmas, isto é, benzidamina a 50 µg/mL e HBSS a pH 5. A tabela 12
apresenta o perfil de permeação obtido para o tecido do suíno A e a tabela 13 para o tecido
do suíno B.
24
Tabela 12: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, obtidos ao
longo de 22 horas para o suíno A.
Tempo (horas) Absorvência(306nm)
- Compartimento recetor
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
Absorvência(306nm) - Compartimento
dador
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
1 0,022 1,669 0,83 54,136
2 0,038 2,708 0,826 53,877
3 0,043 3,032 0,805 52,513
4 0,044 3,097 0,803 52,383
5 0,055 3,812 0,779 50,825
22 0,792 51,669 0,982 64,006
Tabela 13: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, obtidos ao
longo de 22 horas para o suíno B.
Tempo (horas) Absorvência(306nm)
– Compartimento recetor
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
Absorvência(306nm) - Compartimento
dador
Concentração de benzidamina
(µg/ml)
1 0,018 1,409 0,757 49,396
2 0,032 2,318 0,794 51,799
3 0,038 2,708 0,793 51,734
4 0,05 3,487 0,733 47,838
5 0,07 4,786 0,757 49,396
22 0,788 51,409 0,805 52,513
Pela análise dos resultados não foi observada uma variabilidade interindividual significativa
entre as amostras. Contudo apenas se comparam dois tecidos o que não é suficiente para
concluir que essa variabilidade não se verifica. As figuras 9 e 10 representam graficamente os
resultados obtidos entre as 0 e as 5 horas e entre as 0 e as 22 horas, respetivamente.
25
Figura 9: Comparação da concentração de benzidamina obtida até às 5 horas, no compartimento
recetor, entre o suíno A e B.
Figura 10: Comparação da concentração de benzidamina obtida ao longo de 22 horas, no compartimento
recetor, entre o suíno A e B.
A leitura efetuada após aproximadamente 22 horas também não apresenta uma diferença
significativa entre a concentração de fármaco que permeou através dos dois tecidos.
Devemos evidenciar que esta semelhança verificada, através dos resultados obtidos, poderá
estar relacionada com a recolha das amostras no matadouro ter sido efetuada no mesmo dia
e, possivelmente, os animais abatidos pertenciam ao mesmo lote e à mesma vara. Além disso,
o ensaio efetuado apenas compara dois tecidos, não representando uma amostra significativa
para retirar conclusões.
1
2
3
4
5
6
0 1 2 3 4 5 6
Co
nce
ntr
ação
de
Ben
zid
amin
a
Tempo (horas)
Compartimento recetor
Suíno A
Suíno B
10
20
30
40
50
60
0 5 10 15 20 25
Co
nce
ntr
ação
de
ben
zid
amin
a (µ
g/m
L)
Tempo (horas)
Compartimento recetor
Suíno A
Suíno B
26
3.2.2 Influência do pH do meio na permeação de benzidamina através de
membranas biológicas
A permeação dos fármacos através de membranas biológicas está condicionada pela
proporção entre a fração ionizada e não ionizada em que estes se encontram. Esta fração está
então dependente do pH do meio [19].
Para estudar a influência do pH no perfil de permeação comparou-se a permeação da
benzidamina em pH 5 e pH 7.4. De forma a eliminar uma possível variabilidade interindividual
entre tecidos provenientes de animais diferentes esta experiência foi realizada apenas com
porções de epitélio vaginal de um suíno. Sendo assim, adicionamos a benzidamina aos
compartimentos dadores das duas câmaras de forma a obter uma concentração de 50µg/mL.
A tabela 14 apresenta os resultados obtidos nestas condições.
Tabela 14: Valores de absorvência, e respetivo cálculo da concentração de benzidamina, obtidos ao
longo do tempo no compartimento recetor a diferentes pH’s (5 e 7.4).
Tempo (horas) Absorvência
(306nm) – pH 5
Concentração de benzidamina
(µg/ml) – pH 5
Absorvência (306nm) – pH 7.4
Concentração de benzidamina (µg/ml) – pH 7.4
1 0,018 1,409 0,021 1,222
2 0,032 2,318 0,034 2,125
3 0,038 2,708 0,038 2,403
4 0,050 3,487 0,047 3,028
5 0,070 4,786 0,049 3,167
22 0,788 51,409 0,447 30,806
Figura 11: Comparação da concentração de benzidamina obtida ao longo de 5 horas, no compartimento
recetor, a pH 5 e a pH 7.4.
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
0 1 2 3 4 5 6
Co
nce
ntr
ação
de
be
nzi
da
min
a (µ
g/m
L)
Tempo (horas)
Compartimento recetor
pH 5
pH 7.4
27
A análise da tabela 14 e da figura 11 demonstram um aumento da permeação de benzidamina
ao longo do tempo, ainda que a um ritmo inferior no caso do pH 7.4 até às 5 horas. Após
cerca de 22 horas já se verifica, no compartimento recetor, uma elevada concentração de
fármaco. Além disso, o aumento da concentração no compartimento recetor com pH 7.4 é
menos pronunciado quando comparado com o aumento verificado a pH 5.
Uma possível explicação para a diminuição da permeabilidade a pH 7.4 é a formação de
contra-iões entre a benzidamina na forma não-ionizada e os componentes do meio (HBSS), o
que possivelmente diminui o coeficiente de solubilidade.
Através dos resultados obtidos identificou-se que o pH influencia a permeação da
benzidamina, provavelmente, devido à ionização da mesma conforme o pH do meio. No
entanto, os resultados não estão de acordo com o esperado, uma vez que, um estudo
realizado com membrana artificial refere que o coeficiente de permeabilidade da
benzidamina aumenta, significativamente, à medida que o pH do meio vai aumentando, para
um pH na faixa de 5 a 7.6. Esse estudo indica, também, que esse aumento na permeabilidade
se deve à maior fração de benzidamina na forma não ionizada à medida que o pH aumenta.
Deste modo, seria expetável uma maior concentração de benzidamina no compartimento
recetor a pH 7.4 do que a pH 5, dado que esta apresenta-se menos ionizada a este pH. Porém,
o estudo referenciado realizou-se com uma membrana artificial não estando sujeita aos
mesmos mecanismos de transporte e à interferência do tecido epitelial nas leituras [19].
3.3 Estudo C
3.3.1 Controlo da viabilidade tecidular
A garantia de que o tecido ex vivo se encontra viável é de extrema importância para validar o
estudo de permeação de fármacos, assegurando assim a integridade do tecido e ainda que, o
mesmo, apresenta as mesmas características que se verificam in vivo, tais como os
mecanismos de transporte.
Este ensaio teve como objetivo avaliar a viabilidade tecidular através da Ussing Chamber.
Este método, além de nos possibilitar um sistema para estudos de permeação, também nos
permite controlar a variação dos parâmetros elétricos, através dos elétrodos presentes nos
dois compartimentos (dador e recetor). Entre os parâmetros elétricos que o aparelho nos
possibilita medir interessa-nos, no caso do controlo da viabilidade, controlar a resistência
transepitelial.
3.3.1.1Resistência transepitelial do epitélio vaginal de suíno
Para o controlo da viabilidade tecidular do epitélio vaginal suíno, mediu-se a resistência
transepitelial de vários epitélios vaginais provenientes de suínos diferentes. No equipamento
o sistema selecionado foi o modo OPEN (Figura 7). Nas experiências realizadas permitiu-se a
28
estabilização do sistema durante cerca de 40 minutos, seguindo-se então a adição de
benzidamina de forma a obter uma concentração de 50 µg/mL.
A resistência transepitelial obtida nas experiências realizadas apresentou sempre um padrão
de oscilação de valores entre 250 e 99999 Ohms ao longo do tempo. De forma a melhor
visualizar essa oscilação encontra-se representado na figura 12 a resistência transepitelial
durante aproximadamente 10 minutos.
Figura 12: Resistência transepitelial do epitélio vaginal suíno numa das experiências representativas.
Através da análise da figura 12 verifica-se uma grande oscilação entre os valores não
permitindo retirar conclusões sobre a viabilidade tecidular. Além disso, a adição do fármaco
ao meio não alterou este padrão de oscilação.
3.3.1.2 Resistência transepitelial do epitélio intestinal de suíno
Dado a grande oscilação da resistência obtida no epitélio vaginal de suínos e a hipótese de
esta ser característica do mesmo, estudamos, nas mesmas condições, o epitélio intestinal de
suínos.
A figura 13 apresenta a resistência transepitelial durante os 10 minutos iniciais para o epitélio
intestinal de suíno.
-20000
20000
40000
60000
80000
100000
120000
0 200 400 600 800
Res
istê
nci
a (O
hm
s)
Tempo (segundos)
Epitélio vaginal de suíno
29
Figura 13: Resistência transepitelial do epitélio vaginal suíno.
Os resultados obtidos indicam uma oscilação semelhante à verificada no epitélio vaginal, que
varia entre 250 e 99999 Ohms, o que demonstra que este tipo de variação não é característica
do epitélio vaginal.
3.3.1.3 Medição da resistência transepitelial através de um multímetro
Os valores de resistência obtidos nas experiências anteriores suscitaram a dúvida sobre o
correto funcionamento do equipamento. Para verificar esta questão, utilizamos um
multímetro para a medição da resistência transepitelial do epitélio vaginal de suíno.
A partir do epitélio vaginal de um suíno isolamos três porções que foram colocadas nas
câmaras do sistema Ussing Chamber, onde foi ligado um multímetro. A tabela 15 apresenta os
valores de resistência obtidos através do multímetro.
Tabela 15: Resistência transepitelial do epitélio vaginal obtida através de um multímetro.
Epitélio 1ª Epitélio 1B Epitélio 1C
Resistência
transepitelial (KΩ) 9.93 9.29 8.74
Os valores de resistência obtidos por multímetro demonstram uma resistência na ordem dos 9
KΩ. A resistência verificada indica-nos que as leituras anteriores no equipamento se devem a
uma falha técnica, isto é, o equipamento não nos permitiu compensar corretamente a
resistência do sistema, nas condições de ensaio.
-20000
20000
40000
60000
80000
100000
120000
0 200 400 600 800
Re
sist
ên
cia
(Oh
ms)
Tempo (segundos)
Epitélio intestinal de suíno
30
3.3.1.4 Medição da resistência em modo Short-circuit
Os valores de resistência resultantes da medição em modo open (figura 7) dos epitélios
vaginal e intestinal de suíno não foram conclusivos. Dado que se encontra descrito para o
epitélio vaginal humano uma resistência na ordem dos 500-670Ω, registada através do modo
short-circuit, estudamos o epitélio vaginal de suínos nas mesmas condições. Para tal
selecionou-se no módulo function o modo clamp de voltagem no aparelho (figura 7)[25, 34].
Esta experiência teve como objetivo verificar se o aparelho funciona nestas condições e se os
valores de resistência resultariam em dados coerentes. Deste modo, procedeu-se à montagem
de duas câmaras com tecido epitelial de suíno, proveniente do mesmo animal, em HBSS a pH
5. Os resultados obtidos encontram-se na figura 14.
Figura 14: Resistência transepitelial em função do tempo.
Através da análise da figura 14 verifica-se que em modo short-circuit não ocorre a grande
variação na resistência que se observa no modo open (figura 7). Além disso, os valores de
resistência apresentam uma tendência para a estabilização, que resulta, possivelmente, de
uma adaptação do tecido ao meio. Deste modo, para estudar a viabilidade é necessário um
tempo de estabilização mais elevado e a utilização de epitélio vaginal fresco, garantindo
assim que este ainda se encontra viável.
A análise dos resultados obtidos em 3.3.1.1, 3.3.1.2, 3.3.1.3, 3.3.1.4 permite-nos colocar a
hipótese de que a elevada oscilação da resistência se deve a um erro técnico, uma vez que
tudo indica ter havido défice da compensação da resistência no ajuste das condições iniciais
(figura 7- Fluid res comp).
50
100
150
200
250
300
350
0 20 40 60 80 100
Res
istê
nci
a (O
hm
's)
Tempo (minutos)
Epitélio A
Epitélio B
31
3.4 Estudo D
3.4.1Método de quantificação: espetrofotometria versus RMN
Outra das críticas que fizemos ao nosso trabalho foi o método de quantificação da
benzidamina [13]. Demos, então, início à aplicação da quantificação da benzidamina por RMN
[19].
Este estudo teve como objetivo verificar se o RMN é um método mais reprodutível e sensível
para a deteção da benzidamina que a espetroscopia. Para tal estudamos a permeação da
benzidamina através do epitélio intestinal de suíno, quantificando o fármaco por
espetroscopia e RMN.
Da mesma forma que o realizado para o epitélio vaginal, procedeu-se à montagem de uma
câmara apenas com tecido intestinal de suíno, sem qualquer adição de fármaco, e uma
câmara com o mesmo tecido onde foi adicionado benzidamina (concentração final 50 µg/mL).
Esta experiência foi realizada a pH 7.4.
Na tabela 16 e 17 estão representados os resultados obtidos, no compartimento dador e
recetor, respetivamente, através da espetroscopia e do RMN da câmara que contêm tecido
intestinal de suíno, sem qualquer adição de fármaco.
Tabela 16:Comparação entre o doseamento dos interferentes do tecido por espetroscopia e RMN no
compartimento dador (epitelial).
Espetroscopia RMN
Tempo (horas) Absorvência
(306nm)
Concentração de
interferentes (µg/mL)
Concentração de
interferentes (µg/mL)
1 0,082 5,458 0
2 0,087 5,806 0
3 0,101 6,778 0
32
Tabela 17: Comparação entre o doseamento dos interferentes do tecido por espetroscopia e RMN no
compartimento recetor (seroso).
Espetroscopia RMN
Tempo (horas) Absorvência
(306nm)
Concentração de
interferentes (µg/mL)
Concentração de
interferentes (µg/mL)
1 0,032 1,986 0
2 0,043 2,750 0
3 0,044 2,819 0
Os resultados obtidos através da espetroscopia demonstram, tal como para o epitélio vaginal,
que o tecido liberta componentes que interferem nas leituras e que ao longo do tempo essa
interferência é maior. Por outro lado, os componentes do tecido não parecem interferir com
o doseamento através do RMN.
Na tabela 18 e 19 estão representados os resultados do doseamento efetuado através de
espetroscopia e RMN, no compartimento dador e recetor, respetivamente, em que o
compartimento recetor contem 50 µg/mL de benzidamina:
Tabela 18: Comparação entre o doseamento de benzidamina por espetroscopia e RMN no compartimento
dador.
Espetroscopia RMN
Tempo (horas) Absorvência
(306nm)
Concentração de
benzidamina (µg/mL)
Concentração de
benzidamina (µg/mL)
1 0,629 43,444 27,880
2 0,656 45,319 24,820
3 0,615 42,472 21,820
33
Tabela 19: Comparação entre o doseamento de benzidamina por espetroscopia e RMN no compartimento
recetor.
Espetroscopia RMN
Tempo (horas) Absorvência
(306nm)
Concentração de
benzidamina (µg/mL)
Concentração de
benzidamina (µg/mL)
1 0,031 1,917 0
2 0,030 1,847 0
3 0,049 3,167 0
Figura 15: Comparação entre a concentração de benzidamina obtida através da espetroscopia e RMN no
compartimento recetor.
Através do RMN observa-se que após 3 horas não ocorreu permeação de benzidamina para o
compartimento recetor. Pelo contrário, através da espetroscopia, detetaram-se baixas
concentrações que deverão corresponder à interferência de componentes libertados pelo
tecido, como observado na experiência anterior.
No compartimento dador, através do RMN, verifica-se um decréscimo da concentração de
benzidamina ao longo do tempo, sugerindo a hipótese da ocorrência de permeação através do
tecido. No entanto, este decréscimo não é acompanhado por um aumento da concentração de
benzidamina no compartimento recetor, que poderá dever-se à adsorção do fármaco ao
tecido ou que, para concentrações baixas, o método não apresenta sensibilidade. A
possibilidade de adsorção ao tecido é suportada por estudos que sugerem a existência de uma
adsorção ao tecido, funcionando como reservatório para o fármaco, e ainda que inicialmente
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
0 1 2 3 4
Co
nce
ntr
ação
de
ben
zid
amin
a (µ
g/m
L)
Tempo (horas)
Compartimento recetor
RMN
Espetroscopia
34
o gradiente de concentração através da mucosa não deverá ser linear até que o fármaco
equilibre dentro do tecido [35].
Comparando os dados obtidos no compartimento dador entre a espetroscopia e o RMN
constata-se uma diferença significativa possivelmente devida à interferência do tecido nas
leituras espetrofotométricas.
35
4 Conclusão
Os resultados obtidos ao longo deste trabalho de investigação permitiram concluir que:
O protocolo da preparação das amostras é eficaz;
O método de quantificação por espetroscopia está sujeito a muitas interferências
e não deve ser utilizado para a quantificação de benzidamina a baixas
concentrações;
A utilização do meio HBSS pode limitar os estudos de pH;
Tudo indica haver permeação transepitelial vaginal da benzidamina a pH 5 neste
modelo experimental.
O presente trabalho de investigação, ainda em desenvolvimento, permitiu-nos estabelecer as
bases necessárias para realizar estudos de permeação em epitélio vaginal. Com base nos
conhecimentos adquiridos será possível explorar as potencialidades da técnica de Ussing
Chamber aplicada a permeação de fármacos.
36
37
Capítulo 2 – Estágio em farmácia
comunitária
1 Introdução
A farmácia comunitária é uma instituição prestadora de serviços de saúde que tem como
principal objetivo a satisfação das necessidades dos utentes, contribuindo para resolver os
seus problemas de saúde e bem-estar. O farmacêutico, como especialista do medicamento, é
responsável pela dispensa de medicamentos, bem como pela revisão da terapêutica,
educação para a saúde, farmacovigilância e seguimento terapêutico, promovendo o uso
racional do medicamento. Este conjunto de processos é designado por cuidados
farmacêuticos, que coloca o farmacêutico com um papel preponderante na farmácia
comunitária [36].
O estágio teve como principal propósito um primeiro contato com a prática farmacêutica,
permitindo aplicar e consolidar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso e conhecer a
organização e funcionamento da farmácia comunitária. O meu estágio realizou-se na
Farmácia do Calendário (FC) com a duração de 400 horas.
No presente relatório exponho as atividades desenvolvidas e os conhecimentos adquiridos
durante o estágio, com ênfase para a importância do farmacêutico na farmácia comunitária.
2 Organização da farmácia
2.1 Recursos humanos
2.1.1 Quadro técnico
O quadro técnico da farmácia é constituído por seis elementos:
Farmacêutico e Diretor técnico: Dra. Alexandra Esteves
Farmacêutico Adjunto: Dra. Catarina Carvalho
Técnicos de Farmácia: Ana Faria e Juliana Silva
Ajudantes Técnicos de Farmácia: Alice Campos e Hernâni Carvalho
Auxiliar de limpeza: Natália
2.1.2 Funções e responsabilidades
O diretor técnico é o responsável máximo pela farmácia, competindo-lhe o dever de assumir a
responsabilidade pelos atos farmacêuticos praticados na farmácia, garantir a prestação de um
aconselhamento adequado aos utentes sobre os medicamentos, promover o uso racional do
medicamento, assegurar que só são dispensados aos utentes medicamentos sujeitos a receita
38
médica quando estes não apresentam a mesma, em casos de força maior, manter o bom
estado de conservação dos medicamentos e produtos, e um aprovisionamento suficiente de
medicamentos na farmácia. Além disso, deve também assegurar que a farmácia se encontra
com boas condições de higiene e segurança, que os funcionários mantêm o asseio e a higiene,
que cumprem as regras deontológicas da atividade farmacêutica e os princípios e deveres
previstos na legislação reguladora da atividade farmacêutica [].
Deve também ser nomeado, pelo proprietário da farmácia, e registado no INFARMED o
farmacêutico, ou os farmacêuticos, que substitua o diretor técnico em casos em que o mesmo
não possa estar presente na farmácia [37].
Quanto aos restantes elementos da equipa, além das funções gerais, como o atendimento ao
público e armazenamento dos medicamentos, é atribuído pelo diretor técnico
responsabilidades referentes às diferentes zonas da farmácia, promovendo uma boa dinâmica
e organização no seio desta. De uma forma geral:
Ana Faria: Responsável pelo gabinete de testes bioquímicos
Juliana Silva: Responsável pelo programa terapêutico com cloridrato de metadona e
pelo armazém secundário
Hernâni Carvalho: Responsável pela receção de encomendas e controlo do receituário
Alice Campos: Responsável pela zona do balcão.
2.2 Caraterização geral do espaço
A FC localiza-se na avenida de França, freguesia de Calendário, na cidade de Vila Nova de
Famalicão. Abrange uma vasta área habitacional e encontra-se na proximidade de outros
locais de prestação de serviços de saúde como o centro de saúde de Vila Nova de Famalicão e
uma clínica privada.
2.2.1 Caraterização do espaço exterior
A farmácia encontra-se devidamente identificada por um letreiro, com o respetivo nome,
“Farmácia do Calendário”, e a típica cruz verde onde são disponibilizadas informações como a
temperatura, data e hora e alguns serviços prestados pela farmácia.
Do exterior é ainda possível observar informações sobre as farmácias de serviço, horário de
funcionamento, nome do diretor técnico, serviços prestados pela farmácia, um postigo de
atendimento e uma montra que se encontra decorada conforme a altura do ano. De forma a
facilitar o acesso a indivíduos portadores de deficiência a farmácia contem uma rampa
amovível, contornando assim o degrau existente.
39
2.2.2 Caracterização do espaço interior
A FC é um estabelecimento com uma dimensão considerável, sendo que a totalidade do
espaço divide-se por dois pisos. No rés-do-chão encontra-se a zona de atendimento, o
gabinete de estética, gabinete de atendimento personalizado, armários de gavetas, zona de
receção de encomendas e o gabinete da diretora técnica. Neste andar, encontra-se ainda um
pequeno hall de entrada onde se encontra o postigo de atendimento noturno. A cave é
constituída por um laboratório, uma grande área de armazenamento (dividida em duas partes
distintas) e instalações sanitárias.
2.2.2.1 Zona de atendimento ao público
Trata-se de uma zona ampla, com um ambiente acolhedor, devidamente iluminada e
climatizada. Numa primeira zona estão colocados expositores com produtos de puericultura e
dermocosmética devidamente divididos por marca e, dentro destes, por gama e uma balança
automática. Após esta zona encontram-se cinco postos de atendimento, cada um deles
equipados com um terminal informático, leitor de código de barras, respetiva caixa e
impressora, o que proporciona um atendimento mais personalizado e com maior privacidade
[36].
Imediatamente atrás dos balcões encontram-se expositores com alguns produtos, como
champôs, produtos de higiene oral, multivitamínicos, espaço animal, entre outros. Além dos
expositores, também possui módulos com gavetas onde se encontram produtos de elevada
rotação, como por exemplo, anti trombóticos, anticoagulantes e contracetivos orais.
2.2.2.2 Gabinete de atendimento personalizado
É uma zona que permite um atendimento privado e personalizado do utente. Aqui são
realizados os testes bioquímicos, como a medição da glicémia, colesterol total, hemoglobina,
triglicéridos, ácido úrico e PSA, e a medição da tensão arterial, através de um dispositivo
automático. De forma a salvaguardar a privacidade dos utentes que se encontram no
programa de tratamento com metadona, é neste gabinete que se disponibiliza este serviço.
2.2.2.3 Gabinete de estética
O gabinete de estética encontra-se na zona de atendimento ao público, onde são
disponibilizados vários tratamentos de beleza. Por vezes, algumas marcas de dermocosmética
disponibilizam alguns tratamentos gratuitos de forma a promoverem os seus produtos.
2.2.2.4 Área de armazenamento
Nesta zona existe um conjunto de gavetas deslizantes onde se encontram as diferentes
especialidades farmacêuticas, organizadas da seguinte forma: medicamentos éticos;
medicamentos genéricos; soluções e suspensões orais; preparações vaginais; injetáveis;
enemas; gotas, soluções oftálmicas e colírios; preparações para asmáticos e soluções de
40
nebulização; produtos veterinários; carteiras; ampolas bebíveis; soluções tópicas: cremes,
geles e pomadas. Dentro destes grupos, os produtos estão dispostos por ordem alfabética.
Esta zona é controlada em termos de temperatura e humidade através de um aparelho
automático.
Além das gavetas deslizantes, a farmácia possui armários onde estão organizados alguns
produtos. Num primeiro armário encontram-se, por exemplo, produtos de desinfeção e
tratamento de feridas como pensos, gazes, ligaduras, betadine®, álcool etílico, algálias e
coletores de urina, entre outros. Em seguida, num segundo armário estão preparações de
alimentação infantil e probióticos. No último, estão alguns produtos de higiene íntima,
champôs anti-parasitários, chás, cremes, entre outros, organizados em diferentes prateleiras.
Existe também um frigorífico onde são colocados os produtos e medicamentos que necessitam
de refrigeração, a uma temperatura entre os 2-8 ˚C, como por exemplo, as insulinas, vacinas,
alguns colírios, entre outros.
2.2.2.5 Zona de receção de encomendas
Os fornecedores entregam as encomendas através de uma porta traseira que dá acesso à zona
de receção de encomendas, onde são colocadas até ser dada a entrada das mesmas. Esta zona
é constituída por uma secretária na qual se encontram os dispositivos necessários para o
efeito, como o computador equipado com leitor de código de barras, impressora de papel,
fax, scanner e impressora de código de barras. É nesta zona que também se efetuam
encomendas e devoluções.
2.2.2.6 Gabinete da diretora técnica
É neste espaço que ocorrem reuniões relacionadas com os assuntos administrativos e
burocráticos, como por exemplo, reuniões com delegados de informação médica. É, também,
neste local onde é arquivada toda a documentação referente à gestão e contabilidade da
farmácia.
2.2.2.7 Armazém secundário
Este local, no piso -1, destina-se ao armazenamento de produtos que se encontram em
excesso, sendo constituído por dois locais distintos. Numa primeira zona são armazenados, em
prateleiras, medicamentos éticos, genéricos e medicamentos não sujeitos a receita médica,
organizados por ordem alfabética. Ainda nesta zona, encontra-se armários de correr onde se
armazenam soluções e suspensões orais, colírios, sistemas transdérmicos, entre outros, e mais
três módulos de prateleiras onde são guardados pensos, meias de descanso, produtos de
higiene oral, produtos de emagrecimento, entre outros. Na segunda zona de armazenamento,
estão guardados medicamentos que existem em grande quantidade, produtos de
dermocosmética, leites e papas, fraldas, entre outros.
41
2.2.2.8 Laboratório
Localizado no piso -1, é composto por uma bancada de trabalho lisa, um lavatório, um
exaustor, armários e material corrente de laboratório. No entanto, esta zona apenas é
utilizada para reconstituir preparações extemporâneas e armazenamento e preparação da
metadona, uma vez que não se preparam manipulados. Quando estes são necessários, é
realizado o pedido à Farmácia Aliança, na Maia, onde se procede à preparação dos mesmos,
com a qual tem um regime de sociedade. Além disso, é neste local que se armazenam os
estupefacientes e psicotrópicos, em armários específicos.
No laboratório está disponível, para consulta, várias fontes de informação como por exemplo,
o Índice Nacional Terapêutico, a Farmacopeia Portuguesa V, VI, VII e VIII, Formulário Galénico
Português, bem como fichas de segurança das matérias-primas.
2.2.2.9 Instalações sanitárias
A casa de banho é utilizada pelos funcionários e, por vezes, por utentes quando é necessário
realizar recolhas de urina para testes de gravidez ou testes de infeções urinárias.
2.3 Sistema informático
Os recursos informáticos são, cada vez mais, uma ferramenta indispensável no dia-a-dia da
farmácia, permitindo uma otimização das tarefas realizadas, o que resulta numa economia de
tempo e diminuição de erros.
A farmácia dispõe de seis computadores, cinco para atendimento ao público, e um para
gestão administrativa e de encomendas. O software instalado é o SIFARMA clássico, que
constitui um instrumento muito útil, facilitando a prestação de um melhor serviço quer aos
utentes como aos funcionários. Este sistema auxilia o atendimento, permitindo efetuar
vendas a crédito, suspensas ou ambas, consultar a existência de um produto em stock e a sua
localização, anular vendas, verificar qual o grupo terapêutico que um determinado
medicamento pertence e quais os seus similares, entre outros. Proporciona também uma boa
gestão de encomendas, permitindo efetuar encomendas, dar entrada no sistema, bem como
uma boa gestão de stocks, controlo dos prazos de validade e faturação de receitas.
2.4 Princípios básicos da legislação farmacêutica em vigor
O exercício da profissão farmacêutica tem uma dimensão ética que é regulada pelo código
deontológico da ordem dos farmacêuticos e por diversos diplomas legais em vigor, devendo o
farmacêutico cumprir todas estas disposições.
A Ordem dos Farmacêuticos (OF) é uma associação pública que representa e defende a
profissão farmacêutica em território nacional. Desta forma, exerce a autorregulação da
profissão com os seus direitos e deveres orientados por uma conduta moral e profissional.
42
Compete também à OF criar condições para que as Boas Práticas Farmacêuticas para a
Farmácia Comunitária (BPF) sejam elaboradas, revistas, e implementadas no âmbito do
Sistema de Gestão da Qualidade da OF (SGQOF)
O INFARMED tem por objetivo a proteção da saúde pública, mediante a avaliação,
regulamentação e controlo das atividades, relacionadas com os medicamentos de uso humano
e produtos de saúde, garantindo dessa forma a qualidade, segurança e eficácia destes.
A Associação Nacional das Farmácias (ANF) representa a maior parte das farmácias
portuguesas e defende moral, profissional e economicamente os proprietários destas. A sua
constante exigência nos padrões de qualidade dos serviços prestados tende a tornar os
cidadãos mais confiantes no setor farmacêutico.
Os medicamentos também são regidos por uma legislação específica, que os distingue de
todos os outros produtos de saúde. O Estatuto do Medicamento estabelece o regime jurídico a
que obedecem os medicamentos de uso humano (inclusive os medicamentos
radiofarmacêuticos, homeopáticos e os medicamentos tradicionais à base de plantas), nas
suas áreas de fabrico, controlo de qualidade, segurança e eficácia, introdução no mercado e
sua comercialização [38].
3 Informação e documentação científica
3.1 Biblioteca básica e publicações obrigatórias
A introdução constante no mercado de novidades terapêuticas e a exigência, cada vez maior,
dos utentes sobre as características e efeitos dos medicamentos, impõem ao farmacêutico
uma atualização constante dos seus conhecimentos. Assim, é importante que o farmacêutico
disponha na farmácia de fontes de informação fidedignas, que possa aceder facilmente, de
forma a dar resposta às dificuldades e dúvidas que possam existir.
A FC tem disponível para consulta várias publicações, entre as quais, as publicações
obrigatórias segundo a deliberação nº 414/CD/2007 do INFARMED: o Prontuário Terapêutico e
a Farmacopeia Portuguesa VIII. Além destas publicações obrigatórias, a FC ainda possui o
Índice Nacional Terapêutico, o Formulário Galénico Português circulares informativas, entre
outras.
3.2 Centro de documentação e informação
Além das publicações disponíveis na farmácia, existem vários centros de informação e de
documentação sobre os medicamentos, que o farmacêutico pode contatar com vista a
esclarecer qualquer dúvida rapidamente. Quando surgem casos especiais como, por exemplo,
um utente estrangeiro que solicita na farmácia um medicamento que contem um nome
43
diferente no nosso País, é possível contatar o centro de Informação de Medicamentos para
esclarecer a qual corresponde.
Os centros de informação disponíveis são, por exemplo:
CIMI – Centro de Informação do Medicamento e dos Produtos de Saúde
CIM- Centro de Informação do Medicamento da Ordem dos Farmacêuticos
CEFAR- Centro de Estudos de Farmacoepidemiologia da Associação Nacional de
Farmácias
CETMED- Centro Tecnológico do Medicamento da Associação Nacional de Farmácias
CEDIME- Centro Informação sobre Medicamentos da Associação Nacional das
Farmácias
4 Medicamentos e outros produtos de saúde
4.1 Medicamento em geral
O estatuto do medicamento define medicamento como: “toda a substância ou associação de
substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças
em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada no ser
humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou, exercendo uma ação
farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções
fisiológicas”[38].
Quanto à dispensa na farmácia os medicamentos são classificados como sujeitos a receita
médica e não sujeitos a receita médica. Para ser considerado um medicamento sujeito a
receita médica, o medicamento tem que cumprir uma das seguintes premissas: “constituir,
direta ou indiretamente, um risco, mesmo quando usados para o fim a que se destinam, caso
sejam utilizados sem vigilância médica; sejam com frequência utilizados em quantidade
considerável para fins diferentes daquele a que se destinam, se daí puder resultar qualquer
risco, direto ou indireto, para a saúde; contenham substâncias, ou preparações à base dessas
substâncias, cuja atividade e ou efeitos secundários seja indispensável aprofundar; sejam
prescritos pelo médico para serem administrados por via parentérica.” Todos os
medicamentos que não preencham estes requisitos são considerados não sujeitos a receita
médica [38].
4.2 Medicamentos genéricos
Segundo o estatuto do medicamento, o medicamento genérico é um “medicamento com a
mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, a mesma forma
farmacêutica e cuja bioequivalência com o medicamento de referência haja sido
demonstrada por estudos de biodisponibilidade apropriados”[38].
44
4.3 Psicotrópicos e estupefacientes
Os medicamentos psicotrópicos e estupefacientes constituem um grupo de fármacos que,
atuam no sistema nervoso central e podem levar a dependência física, psicológica e a
tolerância. Devido a estas propriedades, estes encontram-se sujeitos a legislação específica,
constando no decreto-lei nº 15/93, de 22 de janeiro, todas as substâncias incluídas neste
grupo [39].
4.4 Preparações oficinais e magistrais
Segundo o estatuto do medicamento, uma fórmula magistral é “qualquer medicamento
preparado numa farmácia de oficina ou serviço farmacêutico hospitalar, segundo uma receita
médica e destinado a um doente determinado”. Já um preparado oficinal é definido como
“qualquer medicamento preparado segundo as indicações compendiais de uma farmacopeia
ou de um formulário oficial, numa farmácia de oficina ou em serviços farmacêuticos
hospitalares, destinado a ser dispensado diretamente aos doentes assistidos por essa
farmácia ou serviço”[38].
4.5 Medicamentos e produtos farmacêuticos homeopáticos
O estatuto do medicamento descreve o medicamento homeopático como um “medicamento
obtido a partir de substâncias denominadas stocks ou matérias-primas homeopáticas, de
acordo com um processo de fabrico descrito na farmacopeia europeia ou, na sua falta, em
farmacopeia utilizada de modo oficial num Estado membro, e que pode conter vários
princípios”[38].
4.6 Produtos fitoterapêuticos
A fitoterapia consiste na utilização das partes ativas das plantas, ou seja, nas propriedades
preventivas e curativas das plantas, de forma a obter um benefício terapêutico. Cabe ao
farmacêutico, conhecer as aplicações dos diferentes produtos, bem como os seus efeitos
adversos, devendo alertar os utentes, que na sua maioria pensam que por serem produtos
naturais não apresentam contraindicações.
4.7 Produtos de alimentação especial e dietéticos
O decreto-lei n.˚ 227/99, de 22 de junho engloba vários produtos dietéticos, entre os quais:
“preparados para lactentes; leites de transição e outros alimentos de complemento;
alimentos para bebés; géneros alimentícios, com valor energético baixo ou reduzido,
destinados ao controlo de peso; alimentos dietéticos destinados a fins medicinais específicos;
alimentos pobres em sódio, incluindo os sais dietéticos hipossódicos ou assódicos; alimentos
sem glúten; alimentos adaptados a esforços musculares intensos, sobretudo para os
desportistas; alimentos destinados a pessoas que sofrem de perturbações do metabolismo dos
glúcidos (diabéticos)”[40].
45
Mais especificamente, o decreto-lei n.˚216/2008, de 11 de novembro, regula os alimentos
dietéticos destinados a fins medicinais específicos, definindo-os como: “uma categoria de
géneros alimentícios destinados a uma alimentação especial, sujeitos a processamento ou
formulação especial, com vista a satisfazer as necessidades nutricionais de pacientes e para
consumo sob supervisão médica, destinando -se à alimentação exclusiva ou parcial de
pacientes com capacidade limitada, diminuída ou alterada para ingerir, digerir, absorver,
metabolizar ou excretar géneros alimentícios correntes ou alguns dos nutrientes neles
contidos ou seus metabólicos, ou cujo estado de saúde determina necessidades nutricionais
particulares que não géneros alimentícios destinados a uma alimentação especial ou por uma
combinação de ambos”[41].
4.8 Produtos cosméticos e dermofarmacêuticos
Um produto cosmético, segundo o decreto-lei n.º 189/2008, de 24 de setembro, é definido
como “qualquer substância ou preparação destinada a ser posta em contacto com as diversas
partes superficiais do corpo humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar,
unhas, lábios e órgãos genitais externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a
finalidade de, exclusiva ou principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto,
proteger, manter em bom estado ou de corrigir os odores corporais”[42].
4.9 Dispositivos médicos
De acordo com o decreto-lei n.º 145/2009, de 17 de junho, um dispositivo médico é
“qualquer instrumento, aparelho, equipamento, software, material ou artigo utilizado
isoladamente ou em combinação, incluindo o software destinado pelo seu fabricante a ser
utilizado especificamente para fins de diagnóstico ou terapêuticos e que seja necessário para
o bom funcionamento do dispositivo médico, cujo principal efeito pretendido no corpo
humano não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos ou metabólicos, embora
a sua função possa ser apoiada por esses meios, destinado pelo fabricante a ser utilizado em
seres humanos para fins de: diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação de
uma doença; diagnóstico, controlo, tratamento, atenuação ou compensação de uma lesão ou
de uma deficiência; estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo
fisiológico; Controlo da conceção”[43].
Estes são ainda divididos em dispositivos médicos ativos e não ativos. De acordo com o mesmo
decreto (decreto-lei n.º 145/2009, de 17 de junho), considera-se um dispositivo médico ativo
“qualquer dispositivo médico cujo funcionamento depende de uma fonte de energia elétrica,
ou outra não gerada diretamente pelo corpo humano ou pela gravidade, e que atua por
conversão dessa energia, não sendo considerados como tal os dispositivos destinados a
transmitir energia, substâncias ou outros elementos entre um dispositivo médico ativo e o
doente, sem qualquer modificação significativa e sendo que o software, por si só, é
46
considerado um dispositivo médico ativo”. Os dispositivos não ativos são todos os que não se
incluem nesta definição [43].
4.10 Medicamentos e produtos de uso veterinário
A definição, segundo o decreto-lei n.˚314/2009, de 28 de outubro, de medicamento
veterinário é “toda a substância, ou associação de substâncias, apresentada como possuindo
propriedades curativas ou preventivas de doenças em animais ou dos seus sintomas, ou que
possa ser utilizada ou administrada no animal com vista a estabelecer um diagnóstico médico
-veterinário ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar,
corrigir ou modificar funções fisiológicas”[44].
Por outro lado, um produto de uso veterinário, de acordo com o decreto-lei n.º 232/99, de 24
de junho, é definido como: “a substância ou mistura de substâncias destinadas quer aos
animais, para tratamento ou prevenção das doenças e dos seus sintomas, maneio zootécnico,
promoção do bem-estar e estado hígio-sanitário, correção ou modificação das funções
orgânicas ou para diagnóstico médico, quer às instalações dos animais e ambiente que os
rodeia ou a atividades relacionadas com estes ou com os produtos de origem animal”[45].
5 Aprovisionamento e Armazenamento
O aprovisionamento corresponde ao conjunto de funções e atividades que tem como objetivo
colocar à disposição do utente, produtos farmacêuticos de qualidade com o menor tempo e
custo possível, satisfazendo as suas necessidades. Este processo é fundamental para um bom
funcionamento da farmácia, o que requer uma boa gestão, permitindo assim uma rotação dos
produtos armazenados, evitando a acumulação excessiva de produtos ou a rutura dos mesmos
e atualização com novos produtos colocados no mercado. Além disso, minimiza a perda de
capital em produtos sem escoamento, salvaguardando a viabilidade financeira da farmácia.
5.1 Seleção de fornecedores
A aquisição dos produtos farmacêuticos pode ser realizada diretamente ao laboratório ou
armazéns e cooperativas de farmacêuticos.
A obtenção de produtos farmacêuticos a armazéns e cooperativas assegura o fornecimento
diário e com rapidez de medicamentos e produtos farmacêuticos de rotatividade diária nas
farmácias. Além disso, estes fornecedores disponibilizam o fornecimento de medicamentos
várias vezes ao dia o que permite a obtenção dos mesmos, quando ocorre rutura de stock,
com rapidez para satisfazer a necessidade de cada utente.
A FC tem como fornecedores principais a COOPROFAR® (Cooperativa dos Proprietários de
Farmácia) e a Botelho&Rodrigues®, a quem são realizadas encomendas regulares que chegam
várias vezes por dia, permitindo satisfazer rapidamente as necessidades dos utentes em caso
47
de rutura ou inexistência de produtos em stock. Além destes, ainda recebe encomendas da
COFANOR® (Cooperativa dos Farmacêuticos do Norte) e da Alliance Healthcare®, mas com
menor frequência.
A seleção dos fornecedores é realizada de acordo com vários critérios como a frequência e a
rapidez da entrega, condições de pagamento e bonificações que oferecem, frequência de
erros quer na faturação ou envio de medicação, entre outros.
No caso de aquisição direta aos laboratórios, a principal vantagem é a negociação direta
proporcionando benefícios económicos principalmente na compra de grandes quantidades.
Esta negociação é realizada por delegados de informação médica que se deslocam à farmácia
onde apresentam as vantagens que a empresa que representam oferece. A maioria dos
produtos obtidos a partir dos laboratórios são medicamentos não sujeitos a receita médica,
genéricos e produtos de dermocosmética. A grande desvantagem na compra direta a
laboratórios reside nos tempos de entrega que são normalmente longos.
5.2 Armazenamento
Após ser dada a entrada da encomenda, procede-se ao seu armazenamento, em que o local e
as condições de armazenamento devem cumprir critérios específicos de cada produto, como a
temperatura, luminosidade e humidade de forma a manter a qualidade dos mesmos.
Aquando o armazenamento dos produtos, deve-se ter em conta a regra “first expired, first
out”, para que os que tem um prazo de validade mais antigo sejam os primeiros a sair,
promovendo a rotatividade dos mesmos, evitando perdas monetárias para a farmácia e a
degradação dos mesmos.
Quanto à organização, como referido anteriormente, os medicamentos encontram-se
arrumados em módulos com gavetas deslizantes, organizados por ordem alfabética, agrupados
por forma farmacêutica. Existem dois grandes grupos que são os éticos e os genéricos, onde
se encontram os comprimidos, cápsulas, supositórios e pequenos emplastros. Ainda em
gavetas deslizantes encontram-se soluções e suspensões orais; gotas, soluções oftálmicas e
colírios; injetáveis; sistemas dispersíveis (saquetas); preparações vaginais; medicamentos e
produtos veterinários; ampolas bebíveis e preparações para asmáticos e soluções para
inalação/nebulização. Os psicotrópicos e estupefacientes são armazenados no laboratório, em
armário específico, estando fora do alcance de pessoas estranhas ao serviço. Esta zona
encontra-se devidamente controlada em termos de temperatura e humidade através de
termómetros e higrómetros
Os produtos de frio estão armazenados no frigorífico que é regulado por termómetro e são os
primeiros a serem armazenados.
48
Na zona de atendimento ao público estão os lineares de exposição onde se encontram os
produtos de dermocosmética, puericultura, higiene oral e atrás do balcão, armazenados em
gavetas, estão produtos protocolo da diabetes, testes de gravidez, analgésicos, anti-
inflamatórios, anticoncecionais, entre outros.
Os produtos que se encontram em excesso são armazenados na zona de armazenamento
secundário, por ordem alfabética e devidamente separados.
O correto armazenamento permite um atendimento com maior rapidez e menor probabilidade
de erros.
5.3 Utilização informática na gestão de medicamentos e
produtos farmacêuticos
5.3.1 Elaboração de uma encomenda
Todos os produtos têm uma ficha no sistema informático onde, conforme a sua rotatividade,
hábitos de prescrição e preferências dos utentes, está definido o stock mínimo e máximo.
O sistema informático, sempre que é realizada uma venda ou uma devolução, atualiza o stock
automaticamente. Quando um produto atinge o stock mínimo o sistema coloca-o numa
proposta de encomenda, que contem este tipo de produtos, e posteriormente é revista pelo
operador, podendo ser alterada conforme as necessidades da farmácia. A maioria destas
encomendas são depois transmitidas, via modem, para os grossitas, repondo assim
rapidamente o stock, uma vez que chegam várias encomendas por dia. Caso, após efetuar a
encomenda, surja um utente com um pedido urgente, que não se encontra nas instalações da
farmácia, é possível ligar com o grossita e efetuar o pedido via telefone, chegando com o
próprio pedido de encomenda ou na entrega seguinte.
Quando são realizados pedidos diretos ao laboratório, estes são encomendados através de
delegados médicos onde se processa uma nota de encomenda, porém estas entregas são mais
demoradas.
A FC tem relações comerciais com algumas farmácias (por exemplo a Farmácia da Estação de
Nine, Farmácia Aliança, entre outras) onde, quando um produto se encontre esgotado ou
rateado nos grossistas, pode-se fazer o pedido via telefone, tentando resolver as necessidades
dos utentes.
5.3.2 Receção de encomendas
As encomendas são entregues pelos grossitas através da porta traseira da farmácia, onde é
necessário, por vezes, uma assinatura e carimbo na guia de transporte. A encomenda depois é
rececionada através do sistema informático, onde se deve verificar se vem acompanhada da
49
respetiva fatura em duplicado. Cumprido este requisito, pode-se dar início ao processamento
da encomenda, através do sistema informático selecionando a opção “encomendas-gestão de
entregas” que contem todas as encomendas pedidas aos grossistas. Selecionando o fornecedor
correto, dá-se o início à leitura ótica dos produtos, preferencialmente os produtos de frio em
primeiro, com especial atenção para os prazos de validade. No final da leitura ótica confirma-
se as quantidades e os preços, corrigindo eventuais erros, transfere-se os produtos em falta
para outro fornecedor, para ser efetuada outra encomenda, e seguidamente valida-se a
receção da encomenda onde é pedido o número da encomenda. Caso, a entrega contenha
psicotrópicos e estupefacientes ou benzodiazepinas, é pedido também o código de barras da
folha que os acompanha, onde em seguida é atribuído um número que é registado nessa
mesma folha. No final, para os produtos de venda livre, são impressas as etiquetas com o
respetivo nome, preço, código, e código de barras do produto.
Quando a encomenda vem acompanhada por produtos ou medicamentos que são novos para a
farmácia é necessário criar uma ficha do produto. Essa ficha é criada no sistema onde se tem
que preencher vários dados da mesma como o código do produto, o stock mínimo e máximo, o
prazo de validade, a necessidade de retirar etiqueta na entrega, o preço de venda ao público
e de custo para a farmácia, o grossista preferencial, entre outros.
5.3.3 Devoluções
A realização da devolução de um produto ao fornecedor deriva de vários motivos, entre os
quais, o produto estar faturado pelo fornecedor mas não ter chegado com a encomenda, o
produto recebido não corresponder ao pedido, o produto ou a embalagem encontrar-se
danificado, o prazo de validade esgotar-se num curto prazo, entre outras. Estes casos são
facilmente resolvidos pela devolução dos mesmos, onde, por exemplo no caso de um produto
em falta, numa próxima encomenda o fornecedor o pode enviar com a devida nota de
crédito.
O sistema informático permite criar uma nota de devolução onde se coloca o código
correspondente ao fornecedor que enviou o produto, o produto, a quantidade e o motivo,
atualizado assim automaticamente o stock. Para devoluções aos fornecedores são impressas 3
cópias da nota de devolução, em que uma fica arquivada na farmácia e as outras duas vão
com o produto devolvido para os fornecedores.
5.4 Controlo de prazos de validade
O controlo dos prazos de validade é um ponto importante na gestão da farmácia. É necessário
controlar os prazos de validade tanto para salvaguardar a saúde do doente como para não
existir perdas a nível económico na farmácia. Assim, no momento em que um produto dá
entrada na farmácia é verificado o seu prazo de validade e confrontado com o prazo dos
outros produtos iguais já existentes. No armazenamento também é tido em conta este fator,
50
colocando no armazém principal os produtos que contem um prazo de validade mais antigo,
guardando os restantes no armazém secundário. Quando são armazenados no armazém
secundário quantidades elevadas do mesmo produto, estes são identificados quando possuem
prazos de validade diferentes.
Mensalmente é realizada a emissão de uma lista, através do sistema informático, com os
produtos cujo prazo de validade caduca, no caso dos medicamentos de uso humano nos
próximos 3 meses, nos medicamentos de uso veterinário nos próximos 6 meses e nos produtos
de protocolo da diabetes nos próximos 5 meses. Esta listagem é constituída pelo nome do
produto, o código, o local onde está armazenado, o prazo de validade e a quantidade dos
mesmos. Os produtos que já tenham expirado ou que expirem nos 3 meses seguintes são
recolhidos e os que, na realidade, ainda possuem um prazo mais longo são anotados para que
se proceda à atualização do sistema informático.
Os produtos recolhidos são devolvidos posteriormente com as respetivas notas de devolução
aos fornecedores. Os produtos de dermocosmética são acondicionados por marca e devolvidos
aos delegados de cada marca.
5.5 Margens legais de comercialização
O preço de venda ao público (PVP) dos medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) é
impresso na cartonagem dos mesmos, que inclui uma margem de lucro que é fixa para
qualquer farmácia [38]. Este preço tem sofrido várias reduções ultimamente, e durante este
período de transição, é possível que o preço impresso na cartonagem não corresponda ao PVP.
É necessário, por isso, confirmar sempre se o preço cobrado ao utente não é superior ao
impresso na cartonagem. Apesar do PVP destes medicamentos ser fixo, é permito aos
fabricantes, distribuidores e farmácias a realização de descontos, desde que este desconto se
aplique à parte não comparticipada do medicamento [46].
O preço dos produtos de venda livre, como, por exemplo, os produtos de dermocosmética,
puericultura e alguns medicamentos, é determinado pela farmácia, de acordo com o preço de
custo, que é acrescido de IVA e a respetiva margem de lucro. Posteriormente, estes produtos
são etiquetados com o respetivo preço.
6 Interação farmacêutico-utente-medicamento
O atendimento é um ponto primordial na farmácia, que envolve uma dispensa responsável e
cuidadosa aos utentes, reproduzindo a imagem que este tem da farmácia e do farmacêutico.
Deve ser acompanhado por um aconselhamento com toda a informação indispensável à
administração correta do medicamento, promovendo a utilização segura, eficaz e racional dos
medicamentos, seguindo sempre os princípios éticos e deontológicos.
51
O atendimento ao utente deve ser personalizado, adaptando a postura e a linguagem
conforme o nível sociocultural e a idade do utente. Esta relação deve ser de confiança,
honestidade e competência para que o utente se sinta seguro sobre a dispensa e o
aconselhamento prestado pelo farmacêutico.
A informação prestada pelo farmacêutico deve ser clara e precisa, garantindo que o utente
entendeu perfeitamente a posologia, a indicação terapêutica, contra indicações, interações,
efeitos adversos e modo de acondicionamento do produto dispensado. Além disso, cabe ao
farmacêutico notificar as suspeitas de reações adversas, derivadas do uso de medicamentos,
sempre que julgue necessário ao Sistema Nacional de Farmacovigilância.
O farmacêutico está obrigado, salvo algumas exceções, ao sigilo profissional devendo por isso
garantir a privacidade máxima do utente, sempre que seja pedido por este ou quando o
farmacêutico ache pertinente que as informações fornecidas não sejam do conhecimento de
terceiros [47]. Para este efeito a FC dispõe de um gabinete de atendimento.
A FC está inserida num meio urbano, localizado perto de um centro de saúde e de clinicas
tendo, por isso, uma população de utentes relativamente heterogénea. A primeira impressão
dos novos utentes acerca da farmácia está relacionada com a relação dos profissionais de
saúde com os mesmos, colocando o atendimento como um ponto-chave na fidelização dos
utentes. Apesar de se encontrar num meio muito heterogéneo, já possuí uma vasta carteira
de clientes habituais.
7 Dispensa de medicamentos
A dispensa de medicamentos consiste na cedência de medicamentos, sujeitos a receita
médica ou para automedicação, ao utente. Ao efetuar a dispensa o farmacêutico deve
assegurar que é fornecida a medicação indicada, bem como disponibilizar todas as
informações referentes ao tratamento, como a via de administração, posologia, efeitos
adversos, entre outras, promovendo a segurança do utente e a efetividade do tratamento.
7.1 Medicamentos sujeitos a receita médica
A dispensa de medicamentos sujeitos a receita médica só é efetuada mediante a
apresentação da mesma, pois a sua utilização, mesmo sob vigilância médica, constitui um
risco. Existem quatro tipos de receitas médicas:
a) Receita eletrónica, que possuem um prazo de validade de 30 dias após a emissão;
b) Receita eletrónica renovável, que pode conter até 3 vias, com um prazo de validade
de 6 meses após a emissão;
c) Receita manual, com um prazo de validade de 30 dias a contar da data de emissão;
52
d) Receita manual renovável, que pode conter até 3 vias, com um prazo de validade de
6 meses após a sua emissão [48].
As prescrições eletrónicas apresentam vantagens em relação às manuais, na medida em que
se diminui o risco de erro ou confusão da dispensa dos medicamentos prescritos, facilitando o
trabalho dos farmacêuticos. Além disso, a prescrição é acompanhada pelo código
correspondente de cada medicamento sendo mais um método de confirmação que se dispensa
o que é prescrito.
Atualmente, para efeitos de comparticipação é obrigatório a prescrição eletrónica de
medicamentos, exceto em situações em que, pela sua natureza subjetiva ou objetiva,
dificultem ou impeçam o uso da prescrição eletrónica, sendo permitida a prescrição em
receita manual desde que esteja devidamente identificada com o regime de exceção.
De acordo com a portaria n.º 198/2011, de 18 de maio, as prescrições eletrónicas estão
sujeitas às seguintes regras de prescrição:
a) “Deve ser emitida informaticamente na hora da prescrição sendo rapidamente
materializada;
b) Podem ser prescritos até quatro medicamentos distintos na mesma receita com limite
máximo de duas embalagens por medicamento. Por outro lado, podem ser prescritas
numa só receita até quatro embalagens, apenas no caso de os medicamentos
prescritos se encontrarem sob a forma de embalagem unitária;
c) A prescrição de medicamentos estupefacientes ou psicotrópicos não pode estar
presente na mesma receita de outros medicamentos;
d) A decisão do médico de autorizar ou não a troca de um medicamento de marca por um
genérico deve ser assinalada no campo da receita para o efeito. O preenchimento
simultâneo ou o não preenchimento destes mesmos campos equivalem à concordância
do médico com a dispensa do medicamento genérico;
e) A receita eletrónica é válida pelo prazo de 30 dias a contar da data da sua emissão.
Não obstante, podem ser emitidas receitas eletrónicas renováveis, que podem conter
até três vias, passando o prazo de validade de cada via a ser de seis meses contando
desde a data de prescrição”[48].
O farmacêutico, antes de dispensar o medicamento ao doente, deve proceder à verificação
da receita confirmando a validade da mesma. Assim, a receita eletrónica deve conter os
seguintes elementos:
53
a) Número da receita e local de prescrição;
b) Identificação do médico prescritor, com a indicação do nome profissional
especialidade médica (se aplicável) número da cédula profissional e contacto
telefónico;
c) Nome e número de utente e de beneficiário de subsistema (se aplicável);
d) Entidade financeira responsável;
e) Regime especial de comparticipação de medicamentos, (representado pelas siglas «R»
e/ou «O») (se aplicável);
f) Designação do medicamento, através da denominação comum da substância ativa, da
marca e código do medicamento representado em dígitos;
g) Dosagem, forma farmacêutica, dimensão da embalagem, número de embalagens e
posologia;
h) Identificação do despacho que estabelece o regime especial de comparticipação de
medicamentos (se aplicável);
i) Data de prescrição;
j) Assinatura, manuscrita ou digital, do prescritor [49].
Além destes elementos deve apresentar ainda os códigos de barras correspondentes:
a) Ao número da receita e local de prescrição;
b) Ao número da cédula profissional;
c) Ao número de utente e de beneficiário de subsistema (se aplicável);
d) Ao código do medicamento.
Após verificação da validade da receita, o farmacêutico, como especialista do medicamento,
deve verificar, por exemplo, se a medicação é indicada para o doente, o risco de interações,
especialmente em idosos, a dosagem, entre outros. Em caso de dúvida é possível contatar o
médico prescritor.
O passo seguinte será a dispensa dos medicamentos. Nesta fase, o farmacêutico após localizar
o medicamento no armazém, eventualmente com a ajuda do sistema informático, passa ao
aconselhamento. Aqui deve fornecer todas as informações importantes ao utente,
confirmando que o mesmo entende tudo o que lhe é dito. Se for medicação habitual, o
farmacêutico pode questionar o utente sobre, por exemplo, quando costuma administrar o
medicamento, evitando perguntas de resposta “sim” ou “não” para não influenciar a resposta
do mesmo. Caso seja medicação nova deve-se questionar o utente sobre uma eventual
medicação que esteja a tomar, verificar se não existem interações e fornecer todas as
informações relativas à indicação terapêutica, posologia, duração do tratamento,
acondicionamento, entre outros.
54
Segue-se o processamento da venda no sistema informático onde cada profissional tem um
código de acesso para efetuar as vendas. Através de um aparelho de leitura ótica procede-se
à leitura dos códigos de barras dos produtos, em seguida preenche-se os campos
correspondentes ao regime de comparticipação: nome, eventualmente o número de
contribuinte do utente, e fecha-se posteriormente a venda. Posteriormente, coloca-se na
impressora a receita onde é registado, no verso, os dados da venda e que o utente tem que
assinar. No final recebe-se o pagamento e fornece-se o recibo ao utente, devidamente
carimbado e assinado pelo farmacêutico.
7.1.1 Subsistemas de Saúde e comparticipações
As receitas são na sua maioria referentes ao Sistema Nacional de Saúde (SNS), que é composto
por dois regimes, o regime geral e o regime especial.
A comparticipação do Estado no preço dos medicamentos faz-se por escalões de
comparticipação, que são divididos de acordo com a classificação farmacoterapêutica dos
fármacos. Assim sendo para o regime geral:
a) “O escalão A é de 95 % do preço de venda ao público dos medicamentos;
b) O escalão B é de 69 % do preço de venda ao público dos medicamentos;
c) O escalão C é de 37 % do preço de venda ao público dos medicamentos;
d) O escalão D é de 15 % do preço de venda ao público dos medicamentos”[50].
No caso do regime especial, a comparticipação do Estado no preço dos medicamentos
incluídos no Escalão A é acrescida de 5% e nos Escalões B, C e D é acrescida de 15% para os
pensionistas cujo rendimento total anual não exceda 14 vezes o salário mínimo nacional [50].
Certas doenças, como a Hemofilia e o Alzheimer, são sujeitas a um regime de
comparticipação especial, sendo escrito na receita o despacho correspondente a cada uma.
Existem ainda outros regimes de comparticipação além do SNS, como a Assistência na Doença
aos Servidores Civis do Estado (ADSE), Assistência na Doença da Polícia de Segurança Pública
(SAD/PSP), entre outros.
Para os produtos protocolo, como as tiras e lancetas para a medição da glicémia em pessoas
com diabetes mellitus, existe um regime de comparticipação específico. As receitas com
estes produtos são identificadas com o regime DS.
Em casos de complementaridade em que o utente beneficia da comparticipação de mais do
que um organismo, deve-se tirar a cópia da receita e colocar, no verso desta, a cópia do
cartão de identificação do outro organismo. Posteriormente cada receita segue em separado
para o respetivo organismo de comparticipação.
55
7.2 Dispensa de psicotrópicos e estupefacientes
Os medicamentos psicotrópicos e estupefacientes constituem um grupo de fármacos que,
atuam no sistema nervoso central e podem levar a dependência física, psicológica e a
tolerância. Devido a estas propriedades, estes são sujeitos a uma legislação especial,
existindo um grande controlo na sua dispensa, que apenas pode ser realizada mediante
apresentação de receita médica especial. As receitas manuais, utilizadas até à introdução de
prescrições eletrónicas, apresentavam impressos próprios, de cor amarela em papel
autocopiativo constituída por um original e dois duplicados corretamente preenchida onde
devia constar:
a) Nome e morada do médico
b) N.º de inscrição na O.M.
c) Data e assinatura do médico
d) Nome, sexo, idade e morada do doente
e) Número do Bilhete de Identidade ou Cédula Pessoal do doente
e) Nome comercial ou genérico do medicamento, bem como a dosagem, forma
farmacêutica, número e tamanho da embalagem [51].
Com a introdução das prescrições eletrónicas estas possuem um impresso semelhante aos
outros medicamentos, no entanto apenas podem conter este tipo de medicação. Ao realizar a
venda destes, através do sistema informático, é necessário preencher vários campos, entre
eles, o nome, número de bilhete de identidade com a data de emissão e a idade de quem
recebe a medicação. Após o preenchimento destes campos, é impresso no verso da receita
original os respetivos dados da venda, seguida da assinatura do adquirente, e são impressos
dois recibos que são anexados às duas cópias. O original da receita é depois enviado para a
respetiva entidade, de forma a obter a comparticipação, sendo que um duplicado fica
guardado na farmácia durante 3 anos e o outro é enviado ao INFARMED, que é a entidade
responsável pelo controlo destes.
7.3 Funções do sistema informático na dispensa de
medicamentos
O sistema informático, nomeadamente o SIFARMA clássico, permite realizar várias funções no
processamento das vendas simplificando o atendimento do farmacêutico. Através da leitura
ótica dos códigos de barras dos produtos e medicamentos o programa permite o correto
processamento das receitas, após a introdução do regime de comparticipação, e da impressão
do recibo, onde consta o preço de venda ao público e os dados do utente. No caso de MNSRM
e produtos de venda livre apenas é impresso o recibo, após o preenchimento de alguns
campos, como o nome do utente e o número de contribuinte. Caso o utente possua o cartão
56
Farmácias Portuguesas permite ainda a atribuição de pontos conforme o que é vendido, e
ainda a troca dos respetivos pontos por produtos, já definidos conforme o número de pontos.
O programa é regularmente atualizado em termos de preço de venda dos medicamentos e
produtos garantido a cobrança correta dos mesmos e a confiança do utente na venda.
Existem, ainda, alguns regimes de venda especial que o sistema permite efetuar, entre elas a
venda suspensa e a venda a crédito.
7.3.1 Venda suspensa
A venda suspensa efetua-se em situações em que o utente necessita de medicação para a qual
não possui receita médica para a mesma, como por exemplo em casos de medicação crónica.
Para o utente não perder o direito à comparticipação é selecionado no programa a opção
“venda suspensa” e processada a venda. Neste caso não se preenche campo onde se coloca o
organismo, sendo apenas necessário preencher os dados do utente. Posteriormente fecha-se a
venda e é impresso um comprovativo de venda suspensa, que é entregue ao utente. O utente
efetua o pagamento na totalidade e quando levar a receita e o respetivo comprovativo de
venda suspensa é devolvido o valor correspondente à comparticipação.
7.3.2 Venda a crédito
A venda a crédito apenas é possível após a criação de uma conta na farmácia e restringe-se a
clientes habituais. No sistema seleciona-se a opção “venda a crédito” e no final da venda é
pedido o número de cliente ou o nome e apelido do mesmo. O utente não necessita então de
efetuar o pagamento na hora, ficando o valor da venda acumulado na conta até atingir um
determinado montante acordado com a farmácia. No final da venda é impresso um
comprovativo da venda que é assinado pelo utente e arquivado na farmácia.
De realçar que o sistema permite a realização de uma venda suspensa e a crédito, em
simultâneo.
8 Automedicação
A farmácia, sendo uma entidade prestadora de serviços de saúde, é um local onde o utente
recorre, muitas vezes, em primeiro lugar de forma a obter um aconselhamento seguro. Nestes
casos o farmacêutico deve avaliar a situação do doente e, caso necessário, encaminhar o
mesmo para o médico. Em situações cujos sintomas sejam facilmente resolvidos cabe ao
farmacêutico avaliar o uso de medidas não farmacológicas e/ou medicamentos não sujeitos a
receita médica de forma a resolver o problema do utente.
57
A automedicação exige por parte do farmacêutico um cuidado adicional sobre grupos de
indivíduos sensíveis como crianças, idosos, gravidas, mulheres a amamentar, doentes
crónicos, entre outros, em que por vezes esta pode não ser indicada.
8.1 Situações passíveis de automedicação
Entre as situações passíveis de automedicação, descritas no despacho n.º 17690/2007, de 23
de julho, as situações que mais surgem na farmácia são: constipações, tosse seca/com
expetoração, dores de cabeça e de garganta, obstipação, diarreia, alergias, entre outros
casos [52].
8.2 Dispensa de Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica
(MNSRM)
Todos os medicamentos que não preencham os requisitos para serem considerados MSRM
encontram-se na categoria de MNSRM [53]. O farmacêutico ao dispensar MNSRM deve, em
primeiro lugar, avaliar se a toma destes não irá omitir sintomas associados a uma patologia
grave, obtendo para isso todas as informações relativas aos sintomas experienciados pelo
doente. Com todas as informações disponibilizadas pelo utente, através de um questionário
sobre sintomas, duração, doenças crónicas, entre outros, o farmacêutico deve promover a
utilização racional dos MNSRM garantindo sempre a máxima segurança.
Após a seleção do tratamento adequado o farmacêutico deve fornecer o aconselhamento,
respetivo ao medicamento, tal como a via de administração, posologia, duração do
tratamento, contraindicações e interações bem como efeitos adversos que poderão surgir.
Finalmente, o farmacêutico deve frisar que a utilização de MNSRM apresentam alguns riscos
para a saúde, desmistificando a ideia que, por vezes, os utentes têm de que estes não trazem
qualquer problema para a saúde, garantindo que os mesmos o utilizam por um período
relativamente curto de tempo e que, em caso de agravamento de sintomas, consultam um
médico.
9 Aconselhamento e dispensa de outros produtos
de saúde
A farmácia, apesar de se centrar na dispensa de medicamentos, possui também uma vasta
gama de outros produtos que exige, mais uma vez, um conhecimento por parte do
farmacêutico sobre as aplicações dos mesmos, de forma a prestar um aconselhamento
adequado.
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9.1 Produtos de dermofarmácia, cosmética e higiene
Um produto de cosmética, como referido anteriormente, é “qualquer substância ou
preparação destinada a ser posta em contacto com as diversas partes superficiais do corpo
humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos genitais
externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a finalidade de, exclusiva ou
principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom
estado ou de corrigir os odores corporais”[42].
Estes produtos, apesar de não serem medicamentos, são muitas vezes prescritos por médicos
para tratamento, ou adjuvante no tratamento, de várias patologias. No entanto, estes são
mais procurados pelos utentes sem qualquer indicação médica. O INFARMED é a entidade que
os regula.
A FC possui vários destes produtos expostos, essencialmente, ao longo da zona de
atendimento como, por exemplo, produtos de higiene íntima, cremes para o dia-a-dia, loções
vernizes, produtos para o banho, fotoprotetores, para certas condições da pele, como acne,
psoríase, pele atópica, bem como produtos específicos para bebés, entre outros. São várias as
linhas disponíveis na farmácia entre as quais estão, por exemplo, a Vichy®, La Roche-Posay®,
Avène®, Rene Furterer®, Mustela®, Aderma®, entre outras. Estas marcas, ao longo do ano,
promovem ações de formação, disponibilizando todas as informações sobre os seus produtos e
aplicações, com enfase para as novidades colocadas no mercado.
O farmacêutico deve ter a capacidade de selecionar o produto ideal para cada utente, e caso
necessário, combinação de produtos que podem ser utilizados, aplicando o aconselhamento
adequado e retirando qualquer dúvida dos utentes, garantindo a máxima segurança na
utilização dos mesmos. Para tal é necessário, que o farmacêutico possua conhecimentos sobre
as características da pele como a sua fisiologia e histologia.
9.2 Produtos dietéticos para alimentação especial
A alimentação do indivíduo deve ser ajustada ao seu estado nutricional, quer para manter ou
recuperar de uma deficiência nutricional, devido a condições fisiológicas especiais, ou ainda,
como adjuvante no tratamento de uma condição patológica. São vários os produtos para
alimentação especial, disponíveis na farmácia, com vista a suprir as necessidades nutricionais
dos utentes.
Este tipo de produtos é classificado de acordo com três categorias:
a) “Produtos alimentares nutricionalmente completos, com fórmula dietética padrão,
os quais, consumidos em conformidade com as instruções do fabricante, podem
constituir a única fonte alimentar para as pessoas a que se destinam;
59
b) Produtos alimentares nutricionalmente completos, com fórmula dietética adaptada a
uma doença, anomalia ou situação sanitária específica, os quais, consumidos em
conformidade com as instruções do fabricante, podem constituir a única fonte
alimentar para as pessoas a quem se destinam;
c) Produtos alimentares nutricionalmente incompletos, com fórmula dietética padrão
ou fórmula dietética adaptada a uma doença, anomalia ou situação sanitária
específica, os quais não são adequados a uma utilização como fonte alimentar única”
[41].
Dada a especificidade destes produtos e a sensibilidade dos doentes, o farmacêutico deve
facultar cuidadosamente todas as informações relativas à sua utilização bem como possíveis
problemas que possam surgir.
9.3 Produtos dietéticos infantis
As necessidades nutricionais dos lactentes são estabelecidas quer pela exigência de uma
elevada taxa de crescimento, quer pela tolerância dos seus órgãos, ainda imaturos. O
aleitamento materno é a forma ideal de alimentação, fornecendo todos os nutrientes
adequados ao seu crescimento durante os primeiros 6 meses de vida. No entanto, nem sempre
é possível a amamentação através do leite materno, recorrendo-se por isso a fórmulas
disponíveis no mercado para o efeito.
A FC possui uma vasta gama destes produtos, essencialmente de leites para latentes, de
transição, para fins medicinais específicos, e farinhas e boiões de várias marcas como o
Enfalac®, Aptamil®, Nutribén®, S-26®, Miltina®, entre outros. Dentro destas marcas existe
produtos para fins específicos como leites hipoalergénicos, anto-regurgitação, anti-cólicas,
anti-obstipantes, leites para prematuros com uma composição particular, entre outros. Alguns
destes produtos são comparticipados pelo estado, sendo que, por exemplo, no caso de
crianças com fenilcetonúria a comparticipação chega aos 100%.
9.4 Fitoterapia e suplementos nutricionais (nutracêuticos)
A fitoterapia consiste na utilização das partes ativas das plantas, ou seja, nas propriedades
preventivas e curativas das plantas, com o objetivo de obter um efeito terapêutico benéfico.
Cabe ao farmacêutico, conhecer as aplicações dos diferentes produtos, bem como os seus
efeitos adversos, devendo alertar os utentes, que na sua maioria pensam que por serem
produtos naturais não apresentam contraindicações.
Na FC existem vários produtos deste género, que são procurados essencialmente para casos
de ansiedade, obstipação, má digestão, insónia, obesidade, entre outros. Entre as marcas
mais comercializadas na FC estão o Chá Moreno®, Herbis® e Bekunis®.
60
Além dos produtos de fitoterapia, também são muito solicitadas as vitaminas, por várias
faixas etárias, de forma a manter a forma física e mental. Estão disponíveis, na FC, vários
produtos desta gama como Pharmaton®, Centrum®, Q.I. Plus®, entre outras.
9.5 Medicamentos de uso veterinário
Os medicamentos de uso veterinário são procurados por os utentes na farmácia de forma a
tentar resolver o problema do seu animal, e por vezes, talvez devido à conjuntura económica
atual, mesmo antes de recorrer ao veterinário. Cabe, por isso, ao farmacêutico verificar as
condições que são passiveis dispensa sem recorrer ao veterinário e as que são necessárias
reencaminhar para o médico veterinário.
A FC tem disponível para os produtos e medicamentos de uso veterinário, uma gaveta, na
zona de armazenamento, e ainda um pequeno expositor na zona de atendimento ao público.
A maior parte das vendas remetem-se para desparasitantes internos, como por exemplo o
Drontal plus® ou o Tenil Vet®, e externos, como o Advantix® e Frontline®. Além destes, ainda
possuí medicamentos para o tratamento de infeções em bovinos, cães e gatos, para o
tratamento de insuficiência cardíaca de cães e gatos, e produtos de higiene e limpeza da pele
de uso auricular cutâneo, entre outros.
9.6 Dispositivos médicos
Os dispositivos médicos incluem uma ampla variedade de produtos, utilizados de forma a
proporcionar uma maior qualidade de vida, permitindo o diagnóstico, prevenção, controlo,
tratamento ou mesmo atenuação da doença. São vários os dispositivos médicos disponíveis na
FC, como por exemplo, testes de gravidez, sacos coletores de urina, termómetros,
preservativos, entre muitos outros. Dada a diversidade destes produtos é necessário um
aconselhamento adequado, por parte do farmacêutico, para que os utentes possam retirar o
máximo benefício com os mesmos.
10 Outros cuidados de Saúde prestados na
Farmácia
A Farmácia, como entidade prestadora de serviços, além da dispensa de medicamentos
também disponibiliza outros cuidados de saúde como o controlo da Pressão Arterial, medição
da glicémia, colesterol, infeções urinárias, entre outros. Para tal, a FC dispõe de um gabinete
de atendimento personalizado onde o farmacêutico pode, em condições de privacidade,
realizar os mesmos e dar aconselhamento no sentido de promover o controlo dos fatores de
risco.
61
10.1 Determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos
A análise dos parâmetros bioquímicos é realizada através de um aparelho eletrónico em que
se aplica tiras de teste, conforme o tipo de análise requerido, onde é necessário colocar uma
pequena quantidade de sangue. O sangue é obtido através de uma picada no dedo que se
recolhe para um capilar, após a desinfeção do mesmo. Após a análise toda a bancada de
trabalho é desinfetada.
Na FC realizam-se medições à glicémia, colesterol total, ácido úrico, triglicéridos,
hemoglobina e creatinina. Após efetuar as medições devem ser dadas as recomendações
necessárias para manter, ou em casos que estejam fora do intervalo aceitável, reduzir os
valores obtidos.
10.1.1 Determinação do colesterol total e dos triglicéridos
O colesterol e os triglicéridos são lípidos que se encontram presentes no sangue e que são
importantes para o organismo, no entanto, em concentrações elevadas são um fator de risco
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Este tipo de testes está disponível na FC e deve ser realizado em jejum. Os valores de
referência são:
Tabela 20 – Valores de referência de colesterol e triglicéridos [54].
Colesterol Total (mg/dL) Triglicéridos (mg/dL)
Normal <200 <150
Normal/Alto 200-239 150-199
Elevado ≥240
200-499
Muito Elevado ≥500
10.1.2 Determinação dos níveis de glicémia
A Diabetes Mellitus é uma doença metabólica crónica caraterizada por hiperglicemia causada
por uma disfunção na ação ou secreção de insulina. Os tipos mais comuns são a diabetes do
tipo I, em que não existe produção de insulina devido à destruição das células pancreáticas, e
o tipo II, em que existe produção de insulina mas esta não é produzida em quantidades
suficientes ou existe uma resistência tecidular à sua ação. Em doentes com elevados níveis
glicémicos é importante controlar estes níveis e o farmacêutico deve reforçar sempre os
conselhos sobre uma alimentação saudável e a prática de exercício físico.
62
Tabela 21 – Valores de referência da glicémia [55].
Categoria Glicémia (mg/dL)
Glicémia em jejum 60-110
Glicémia pós-prandial < 140
10.1.3 Determinação da hemoglobina
A hemoglobina é uma proteína presente nos glóbulos vermelhos que permite o transporte de
oxigénio. A determinação da hemoglobina no sangue é importante, uma vez, que pode indicar
a presença de anemia ou hemorragias internas.
Tabela 22 - Valores de referência da hemoglobina [55].
Categoria Hemoglobina (g/dL)
Normal - Homens 14-18
Normal- Mulheres 12-16
10.1.4 Determinação dos valores de ácido úrico
O ácido úrico é um produto resultante do metabolismo das proteínas purinas. Existem várias
causas que podem causar hiperuricemia como: o aumento do catabolismo das proteínas
purinas, devido a uma alimentação contendo teores elevados destas, diminuição da excreção
renal ou a produção de ácido úrico em excesso. Níveis elevados de ácido úrico podem levar ao
desenvolvimento de gota, que se carateriza por processos inflamatórios nas articulações,
provocando dor, inflamação e edema.
Tabela 23 – Valores de referência do ácido úrico [55].
Categoria Valor (mg/dL)
Homens <7
Mulheres <6
Em casos de hiperuricemia o farmacêutico deve alertar o utente que deve moderar o consumo
de carne e de álcool.
10.1.5 Determinação da creatinina
A creatinina é catabolito do metabolismo muscular da creatinina fosfato, sendo obtida
também através da ingestão de carne. Esta é eliminada via renal, sendo um parâmetro
63
importante para diagnosticar vários problemas renais. A insuficiência renal leva à sua
acumulação no sangue.
Tabela 24 – Valores de referência da creatinina [55].
Categoria Creatinina (mg/dL)
Normal- Homens <0,9
Normal - Mulheres 1,1
10.2 Medição da Pressão Arterial
A hipertensão arterial é um importante fator de risco para doenças cardiovasculares com uma
elevada prevalência em Portugal. Faz, por isso, parte do papel do farmacêutico incentivar o
controlo da pressão arterial.
Antes de iniciar a medição da tensão arterial o utente deve repousar durante 5 minutos,
eliminando a influência, por exemplo, de uma grande caminhada. A FC dispõe de um aparelho
automático para a medição da mesma, durante a qual o utente deve permanecer sem falar.
Após a medição anota-se os valores num cartão apropriado de modo a que seja possível
avaliar a evolução da situação clínica. Nesta fase é importante, o farmacêutico, conforme o
resultado, dar o devido aconselhamento incentivando a prática de exercício físico, uma
alimentação saudável e, contrariamente, o consumo de álcool e tabaco.
Tabela 25 – Valores de referência de pressão arterial [56].
Categoria Pressão sistólica (mmHg) Pressão diasólica (mmHg)
Normal 120-129 80-84
Normal alto 130-139 85-89
Hipertensão grau I 140-159 90-99
Hipertensão grau II 160-179 100-129
Hipertensão grau III ≥180 ≥110
10.3 Determinação dos parâmetros antropométricos
Na FC realizam-se determinações do Índice de Massa Corporal (IMC). Estes valores
determinam o excesso de gordura e a distribuição da mesma, constituindo um fator de risco
para doenças cardiovasculares.
O IMC é calculado através da divisão do peso pela altura (Kg/m2), sendo classificado da
seguinte forma:
64
Tabela 26 – Valores de referência do IMC [55].
IMC (kg/m2) Categoria
<18,5 Falta de peso
18,5-24,9 Normal
25,0-29,9 Excesso de peso
30,0-34,9 Obesidade moderada (grau I)
35,0-39,9 Obesidade grave (grau II)
>40 Obesidade mórbida (grau III)
10.4 Determinação dos níveis de PSA
O antigénio prostático específico (PSA), uma proteína produzida na glândula prostática, em
algumas condições, como na hipertrofia benigna da próstata ou em cancro da próstata,
encontra-se elevado. O teste do PSA não deve ser realizado após relações sexuais, após
exercício física, entre outras situações que promovam a estimulação da próstata.
Tabela 27 – Valores de referência do PSA [55].
Categoria (ng/mL)
Baixo risco <10
Risco intermédio 10-20
Risco elevado >20
10.5 Teste de gravidez
Os testes de gravidez disponíveis para comercialização na FC podem ser realizados na própria
farmácia ou em casa, conforme a preferência do utente. Este teste permite detetar, através
da urina, uma gravidez através da hormona produzida na placenta (hormona gonadotrófica
coriónica humana) pouco tempo após a fixação do embrião na parede uterina. Para a
realização deste teste é aconselhável utilizar a primeira urina da manhã, uma vez que esta
hormona encontra-se mais concentrada. Caso o utente prefira realizar o teste em casa o
farmacêutico deve explicar o modo de utilização de modo a garantir um resultado confiável.
10.6 Teste de infeção urinária
A FC disponibiliza o teste de infeções urinárias, realizado através de tiras colocadas em
contato com a urina do utente, em que são avaliados quatro parâmetros: presença de
leucócitos, nitritos, sangue e proteínas. A tira é constituída por quatro porções, que pouco
tempo após o contato com a urina apresenta cores, conforme a presença e níveis dos quatro
65
parâmetros. O farmacêutico tem de comparar estes resultados com um padrão obtendo o
resultado e em casos positivos encaminhar a situação para o médico.
10.7 Protocolo da diabetes
Em Portugal encontra-se implementado um Programa Nacional de Prevenção e Controlo da
Diabetes Mellitus, em que foram estabelecidos protocolos que permitiram o acesso facilitado
dos utentes aos dispositivos de monitorização e tratamento da diabetes mellitus. Estes
dispositivos, perante a apresentação de uma receita médica específica, são comparticipados
a 85%, no caso de tiras de medição de glicémia capilar, da glicose e de corpos cetónicos na
urina, e a 100%, no caso de seringas, agulhas e lancetas. Estas receitas apenas devem conter
este tipo de produtos e são agrupadas em organismo próprio com o código DS, no caso do SNS,
e com o código DJ para utentes de outros subsistemas de saúde.
11 Preparação de Medicamentos
A preparação de medicamentos nas farmácias tem vindo a decair ao longo dos anos, devido ao
grande desenvolvimento da indústria farmacêutica que suprime a maior parte das
necessidades da farmácia. Na FC não se procede à preparação de manipulados, apenas se
preparam algumas suspensões e pouco mais. Quando se verifica a necessidade de algum
manipulado, este é pedido à Farmácia Aliança, na Maia, com a qual tem uma parceria. A
receita do mesmo é enviada, via fax, e confirmada via telefone a sua receção, prazo de
entrega estimado e o preço do mesmo.
11.1 Preparação de manipulados
O medicamento manipulado é definido como “qualquer fórmula magistral ou preparado
oficinal preparado e dispensado sob a responsabilidade de um farmacêutico”[57]. As fórmulas
magistrais são preparadas de acordo com a prescrição médica e os preparados oficinais de
acordo com a Farmacopeia, como referido anteriormente. O farmacêutico é responsável por
estas preparações, garantindo a qualidade das mesmas e verificando a segurança do
medicamento em relação à dose, às substâncias ativas presentes e à existência de interações
[58].
A preparação decorre consoante a receita médica, de acordo com as normas de segurança e
qualidade. Após a preparação é necessário preencher uma ficha de preparação, onde deve
constar todo o controlo de qualidade realizado, que deve estar de acordo com os critérios
definidos pela Farmacopeia Portuguesa, consoante a forma farmacêutica do medicamento
[57]. Além disso, todas as preparações devem ser rotuladas com toda a informação necessária
ao doente e deve indicar: “nome do doente (no caso de se tratar de uma fórmula magistral);
fórmula do medicamento manipulado prescrita pelo médico; número do lote atribuído ao
medicamento preparado; prazo de utilização do medicamento preparado; condições de
66
conservação do medicamento preparado; instruções especiais, eventualmente indispensáveis
para a utilização do medicamento, como, por exemplo, «agite antes de usar», «uso externo»
(em fundo vermelho), etc.; via de administração; posologia; identificação da farmácia;
identificação do farmacêutico diretor técnico”[].
11.2 Material e equipamento de laboratório
Para a preparação de medicamentos manipulados, a farmácia deve apresentar uma série de
requisitos ao nível das instalações, equipamentos, documentação, matérias-primas, controlo
de qualidade e rotulagem. O laboratório para a preparação destes deve ser composto por
superfícies lisas, de fácil limpeza, devidamente iluminado e ventilado, com temperatura e
humidade adequadas [36, 57]. Além disso, o laboratório deve estar equipado com:
alcoómetro, almofarizes de vidro e de porcelana, balança de precisão sensível ao miligrama,
banho de água termostatizado, cápsulas de porcelana, copos de várias capacidades, espátulas
metálicas e não metálicas, funis de vidro, matrazes de várias capacidades, papel de filtro,
papel indicador pH universal, pedra para a preparação de pomadas, pipetas graduadas de
várias capacidades, provetas graduadas de várias capacidades, tamises com fundo e tampa,
termómetro e vidros de relógio [59].
11.3 Matérias-primas e reagentes
A matéria-prima é definida como “toda a substância ativa, ou não, que se emprega na
preparação de um medicamento, quer permaneça inalterável quer se modifique ou
desapareça no decurso do processo”. Estas devem ser adquiridas aos fornecedores com a
garantia da máxima qualidade e segurança, obedecendo aos requisitos da respetiva
monografia inscrita na Farmacopeia Portuguesa ou nas farmacopeias de outros Estados
membros da comunidade Europeia, acompanhadas pelo respetivo boletim de análise [57].
.
11.4 Regimes de preços e comparticipações
O cálculo do preço de venda ao público dos medicamentos manipulados por parte das
farmácias é efetuado de acordo com o valor dos honorários da preparação, o valor das
matérias-primas e com o valor dos materiais de embalagem. O cálculo dos honorários tem por
base um fator (F) cujo valor é de 4 euros, sendo este atualizado anualmente. Este cálculo
está dependente das formas farmacêuticas do produto acabado e das quantidades
preparadas, que por exemplo, no caso da dispensa de substâncias a granel, não se aplicam
valores de honorários.
O cálculo do valor das matérias-primas é determinado pelo valor de aquisição multiplicado
por um fator, que está dependente das unidades em que forem utilizadas ou dispensadas. Por
67
fim, o valor das matérias de embalagem é determinado pelo valor de aquisição multiplicado
pelo fator 1,2.
O PVP é então o resultado da aplicação da fórmula: (valor dos honorários+ valor das matérias-
primas+ valor dos materiais de embalagem) x 1,3, acrescido o valor do IVA à taxa em vigor
[60].
Para o utente obter comparticipação deste tipo de medicamentos, deve apresentar uma
prescrição médica, que deve indicar que é um manipulado, e apenas deve conter o mesmo.
De acordo com o Despacho nº 4572/2005, de 14 de fevereiro, “mantêm-se comparticipados
em 50% os preparados oficinais incluídos na Farmacopeia Portuguesa ou no Formulário
Galénico Nacional e as fórmulas magistrais que constam da lista de medicamentos
manipulados comparticipáveis”[61].
12 Contabilidade e gestão
A farmácia é um espaço de prestação de serviços de saúde ao público centrado no doente,
porém também necessita de gerar capitais para se manter sustentável. Atualmente, com a
crise financeira verificada em Portugal, uma má gestão e organização dos recursos pode por
em causa a viabilidade das farmácias.
12.1 Processamento de receituário
A dispensa do receituário por parte dos utentes representa uma grande parte das vendas
realizadas na farmácia. Para que a farmácia possa receber a comparticipação da respetiva
entidade é necessário que a receita preencha uma série de requisitos para ser considerada
válida.
O farmacêutico antes da dispensa da receita deve realizar uma primeira verificação da
mesma, a ver se esta se encontra dentro do prazo de validade, se está assinada pelo médico,
se contem as informações sobre o organismo, identificação do médico e do utente.
No verso da receita, após a dispensa dos medicamentos, é impresso um documento de
faturação que deve incluir: identificação da farmácia e diretor técnico; data de dispensa e
código do operador que dispensou a medicação; código do organismo comparticipador; lote,
série e número da receita; os códigos de barras correspondentes aos medicamentos
dispensados, acompanhados do nome da especialidade, forma farmacêutica, dosagem e
dimensão da embalagem; preço de cada medicamento e valor total da receita e a
percentagem e valor monetário que o utente e o respetivo organismo comparticipador pagam
por cada medicamento e pelo total da receita.
68
Após este processamento, as receitas são verificadas uma segunda vez, confirmando a
presença do código de barras ou vinheta do local, código de barras ou vinheta do prescritor e
assinatura médica, número de beneficiário e nome do utente, data de prescrição, assinatura
médica, correspondência entre os medicamentos prescritos e os medicamentos dispensados,
posologia, dimensão da embalagem, número de embalagem, organismo faturado, rubrica,
data e carimbo. Caso estejam em conformidade as receitas são agrupadas por organismos, por
exemplo agrupa-se todas as do SNS, da ADSE, regime especial. O programa informático atribui
um número dentro de cada entidade até formar lotes de 30 receitas. Antes da emissão dos
lotes para enviar para a entidade, as receitas são ainda revistas novamente, confirmando os
parâmetros descritos anteriormente, para confirmar se não passou despercebido algum ponto
que não se encontre em conformidade. Em casos em que se verificam erros, o sistema
informático permite resolver alguns, porém se não for possível através deste, deve-se
contactar o médico ou utente.
12.2 Faturação mensal
As receitas vão sendo organizadas ao longo do mês pelos respetivos lotes. No final de cada
mês procede-se ao fecho de todos os lotes, emitindo-se o respetivo verbete de identificação
para cada organismo. Neste verbete deve constar:
a) Nome da Farmácia e código da ANF;
b) Mês e ano da respetiva fatura;
c) Identificação do organismo;
d) Código, tipo número sequencial do lote no total de lotes entregues no mês;
e) Número de receitas do lote;
f) Número de embalagens referentes a cada receita;
g) Importância total do lote correspondente ao PVP;
h) Importância total do lote paga pelo utente e importância total comparticipada pelo
organismo [62].
Este documento é carimbado e anexado às receitas que correspondem ao lote.
Mensalmente, após o fecho dos lotes, é emitida uma relação resumo dos lotes de cada
organismo e a fatura mensal global de medicamentos para cada entidade, contendo o que
cada entidade tem de pagar à farmácia.
Após este processamento, as receitas são então enviadas para as entidades competentes,
como o Centro de Conferência de Faturas do Serviço Nacional de Saúde (CCF) e a ANF as
restantes. A ANF funciona como intermediária entre a farmácia e as várias entidades. Caso se
verifique algum erro, as receitas são devolvidas à farmácia acompanhadas do motivo de
devolução.
69
12.3 Mecanismos fiscais relativos ao IRS, IVA e IRC
O IVA é o imposto sobre o valor acrescentado que é aplicado nas vendas da farmácia a 6%,
principalmente nos medicamentos, e a 23% para os outros produtos como os de
dermocosmética. Este imposto é pago todos os meses ou de três em três meses, dependendo
das compras e vendas realizadas.
Além deste imposto, também é aplicado o Imposto de Rendimento de pessoas Singulares (IRS)
e o Imposto de Rendimento de pessoas Coletivas (IRC). O IRS é o imposto relativo ao ordenado
dos funcionários e o IRC é calculado com base no rendimento gerado anualmente pela
farmácia, determinando o que é cobrado à mesma pelas finanças.
12.4 Gestão de Recursos Humanos
A gestão dos recursos humanos é essencial para a farmácia atingir os objetivos desejados.
Cabe ao diretor técnico, responsável máximo pelo funcionamento da farmácia, organizar os
horários e a distribuição das funções pelos funcionários de forma a otimizar as atividades
realizadas, levando a um aumento da qualidade dos serviços prestados na farmácia. Para isso
é importante que seja apresentado aos funcionários condições de trabalho atrativas e
promover o trabalho em equipa, mantendo os mesmos motivados.
A constante introdução no mercado de novos medicamentos e produtos obriga a uma
atualização pelos profissionais dos conhecimentos para corresponder às necessidades dos
utentes. É necessário, por isso, uma formação contínua dos profissionais. São várias as
formações disponíveis, por vezes promovidas por marcas, quer na farmácia quer em outros
locais, de forma a atualizar os profissionais das novidades disponíveis no mercado fornecendo
todas as informações úteis para um bom aconselhamento. Ao longo do estágio tive a
oportunidade de participar em várias formações, entre elas:
Método de cuidados capilares da RENÉ FURTERER®
Avéne® – O cuidado essencial das peles sensíveis
Vichy® - Novidades
13 Conclusão
O estágio como um período de transição, entre uma longa etapa de aprendizagem e o contato
com a prática do dia-a-dia do farmacêutico na farmácia de oficina, revelou ser uma
experiência que superou as expetativas.
O estágio permitiu-me colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do curso,
observar o funcionamento de uma farmácia, contactar com os utentes e inclusive participar
em ações de formação. Aprendi a trabalhar com o sistema informático, a dar entrada de
70
encomendas, a interpretar as receitas e conhecer os vários tipos de faturação consoante o
receituário, entre outros, que complementaram os conhecimentos adquirido ao longo do
curso. De uma forma geral, apercebi-me da responsabilidade que é exigida a um farmacêutico
mas também da satisfação que proporciona garantir, dentro do possível, uma qualidade de
vida aos doentes.
Esta etapa proporcionou-me um crescimento profissional e pessoal, constituindo um ponto
fundamental para a integração no mercado de trabalho. Fica a noção que ainda existe um
longo percurso a percorrer para tornar-me um profissional de excelência, mas que me foram
fornecidas as bases necessárias para o alcançar.
71
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43. Decreto-lei n.º 145/2009 de 17 de junho, do Ministério da Saúde, publicado pelo Diário da República, 1.ª série, n.º 115, 17 de junho de 2009.
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45. Estabelece as normas relativas ao fabrico, autorização de introdução no mercado, armazenamento, transporte, comercialização e utilização de produtos de uso veterinário. Decreto-lei n.º 232/99, de 24 de junho, publicado pelo Gabinete Jurídico e Contencioso.
46. Decreto-Lei n.º 65/2007 de 14 de março, do Ministério da Saúde, publicado no Diário da República, 1.ª série, N.º 52, 14 de março de 2007.
47. Decreto-Lei n.º 288/2001 de 10 de novembro, do Ministério da Saúde, publicado no Diário da República, I-série-A, nº 261, 10 de novembro de 2001.
48. Portaria n.º 198/2011, de 18 de maio, do Ministério da Saúde, publicado pelo Diário da República, 1ª. série, Nº 96, 18 de maio de 2011.
49. Portaria n.º 46/2012, de 13 de fevereiro, publicado pelo Diário de República, 1.ª série, Nº 31, de 13 de fevereiro de 2012
50. Decreto-Lei n.º 48-A/2010 de 13 de maio, do Ministério da Saúde, publicado no Diário da República, 1.ª série, N.º 93, 13 de maio de 2010.
51. Execução das medidas de controlo de estupefacientes e psicotrópicos. Portaria n.º 981/98, de 8 de junho.
74
52. Lista das situações de automedicação, Despacho n.º 17690/2007, de 23 de julho. INFARMED.
53. Decreto-Lei n.º 209/94 de 6 de agosto, publicado pelo INFARMED, Gabinete Jurídico e Contencioso.
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56. Cardiology, E.S.o., European guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice: exeutive summary. European Heart Journal, 2007.
57. Aprova as boas práticas a observar na preparação de medicamentos manipulados em farmácia de oficina e hospitalar. Portaria n.º 594/2004, de 2 de junho, publicado pelo INFARMED, Gabinete Jurídico e Contencioso.
58. Regula a prescrição e a preparação de medicamentos manipulados. Decreto-Lei n.º 95/2004 de 22 de abril, publicado pelo INFARMED, Gabinete Jurídico e Contensioso
59. Aprova a lista de equipamento mínimo de existência obrigatória para as operações de preparação, acondicionamento e controlo de medicamentos manipulados, que consta do anexo à presente deliberação e dela faz parte integrante. Deliberação n.º 1500/2004, 7 de dezembro publicado pelo INFARMED, Gabinete Júridico e Contencioso.
60. Estabelece que o cálculo do preço de venda ao público dos medicamentos manipulados por parte das farmácias é efectuado com base no valor dos honorários da preparação, no valor das matérias-primas e no valor dos materiais de embalagem. Portaria n.º 769/2004, de 1 de julho, publicado pelo INFARMED, Gabinete Júridico Contencioso.
61. Mantêm a comparticipação em 50% os preparados oficinais incluídos na Farmacopeia Portuguesa ou no Formulário Galénico Nacional e as fórmulas magistrais que constam da lista de medicamentos manipulados comparticipáveis. Despacho n.º 4572/2005, de 14 de fevereiro, publicado pelo INFARMED, Gabinete Júridico Contencioso.
62. Portaria nº 3-B/2007 de 2 de janeiro, do Ministério da Saúde, publicado pelo Diário da República, 1ª série, nº 1, 2 de janeiro de 2007.